As grandes multinacionais parecem estar preocupadas com as próprias emissões de gases do efeito estufa (GEE). Ao menos isto é o que aponta uma pesquisa realizada pela Ecosecurities em parceria com a consultoria norte-americana ClimateBiz. A ampla maioria (88%) das 65 empresas consultadas afirma já empregar medidas de neutralização das emissões ou diz planejar fazê-lo no futuro.
Ações que promovam a eficiência energética são as preferidas (96,7%), seguido pelo uso de energias renováveis (80%), como biomassa, eólica, biogás vindo de aterros sanitários e agricultura e pequenas centrais hidrelétricas.
Apenas 4% das empresas que participaram da pesquisa “Padrões de Neutralização de Carbono 2008” (Carbon Offsetting Trends survey 2008) afirmaram que nunca iriam compensar as emissões e 60% dos entrevistados disseram que não utilizariam grandes hidrelétricas para este fim.
Produzido com o intuito de compreender como as grandes empresas se comportam com relação às emissões de GEE, este estudo é o primeiro sobre o mercado de carbono voluntário feito a partir da perspectiva dos compradores de compensações e, por isso, oferece algumas pistas sobre o crescimento do mercado.
Além da eficiência energética, as medidas mais comuns entre aqueles que já promovem ações são campanhas de mudança de comportamento dos empregados e melhorias na logística do transporte. Apenas 8,7% efetivamente trocaram fontes fósseis por renováveis.
“Talvez isto chame a atenção para a falta de opções de tarifas de renováveis competitivas por parte dos fornecedores de eletricidade ou dificuldades das companhias com a microgeração”, afirma o relatório que traz os resultados da pesquisa.
Projetos de desmatamento evitado ou reflorestamento ainda dividem as opiniões. Entre os entrevistados, 63,5% disseram que gostariam de ter as emissões compensas por tais projetos. Porém quando questionados quais atividades não investiriam com este objetivo, os projetos de desmatamento evitado perdem apenas para as grandes hidrelétricas, recebendo 34,9% dos votos.
Historicamente as neutralizações têm sido feitas através do plantio de árvores, porém depois de expostos problemas de gerenciamento, muitas empresas que fornecem este serviço foram fortemente criticados pela mídia. Para os organizadores da pesquisa, contudo, há um retorno de interesse por este tipo de compensação de emissões.
“Existem agora diversas organizações e ONGs respeitadas que administram esquemas de plantio de árvores e fornecem benefícios para a comunidade local, assim como entregam as reduções verificadas de emissões prometidas”, comentam no relatório.
Segundo eles, os compradores estão sendo atraídos pelo duplo benefício do projeto (social e ambiental), porém ainda há um estado de alerta no mercado com relação à seriedade das empresas que os gerenciam.
“Como o mercado do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) falhou em apoiar os projetos florestais em larga escala por causa de complicações metodológicas, o mercado voluntário está bem posicionado para absorver tais projetos”, dizem os organizadores da pesquisa.
Os padrões de qualidade de projetos voluntários, como o “Climate, Community and Biodiversty“ (Clima, Comunidade e Biodiversidade), estão ganhando aceitação entre os compradores. Além disso, segundo o documento, o desenvolvimento de projetos de desmatamento evitado pelo padrão “Voluntary Carbon Standard” (VCS) e o crescente apoio a este tipo de ação compensatória deverá cristalizar a demanda, apesar de tais projetos serem um dos menos desejáveis pelas empresas pesquisadas.
Os organizadores concluem que quanto mais as empresas investirem em estratégias de gerenciamento das emissões, os padrões de demanda ficarão mais claros. “Além disso, com as definições de mais iniciativa climáticas, notavelmente os programas RGGI e Iniciativa Climática do Oriente nos EUA, a paisagem das compensações voluntárias continuará mudando consideravelmente.”
(Carbono Brasil, 01/10/2008)