O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, criticou a opção brasileira por investir na geração de energia por térmicas a óleo combustível e carvão. Para ele, há uma "objeção ideológica, quase religiosa" às hidrelétricas no país, que, segundo Kelman, adota uma cartilha apropriada a países desenvolvidos. Ontem, no leilão de energia A-5, para empreendimentos que devem gerar energia a partir de 2013, 63,7% dos 3.125 megawatts-médios contratados serão gerados por 17 termelétricas a óleo combustível, enquanto 8,8% serão gerados por uma térmica a carvão.
Entre as demais fontes de energia, as quatro térmicas a carvão mineral vão gerar 8,8% do total, enquanto a hidrelétrica de Baixo Iguaçu ficará com 3,9% e uma usina produzirá energia através de bagaço de cana, respondendo por 1,1% do contratado no leilão de ontem.
"Um dado positivo desse resultado é que temos usinas que atenderão a demanda de energia elétrica no Brasil. O dado negativo é que mais uma vez o Brasil optou por produzir energia elétrica queimando óleo, em vez de utilizar água, que é um combustível renovável", frisou Kelman, que participou hoje do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase 2008), realizado no Rio de Janeiro.
"Se um marciano chegasse ao Brasil, ele não poderia entender a opção que fazem os brasileiros de descartar o potencial hidráulico que nós temos ainda para ser desenvolvido. Isso não faz sentido ambiental, econômico e será difícil explicar para as próximas gerações a opção que estamos fazendo aqui. É fruto de uma visão míope de demonizar as hidrelétricas", ressaltou.
O diretor-geral da Aneel destacou que os países desenvolvidos já utilizaram, em média, 70% do seu potencial hidrelétrico, enquanto no Brasil essa fatia gira em torno de 30%.
"Restam as usinas nucleares, que demoram muito para ser construídas, a bioeletricidade e as térmicas a gás, que são boas, e as térmicas a óleo e a carvão. Os que falam de fontes alternativas desconsideram qual seria o impacto sobre o consumidor de energia elétrica", ponderou, lembrando que a energia solar custa cerca de dez vezes a hidrelétrica, enquanto a eólica sai geralmente pelo dobro do preço.
(Por Rafael Rosas,
Valor Online, 01/10/2008)