Em entrevista divulgada ontem (1) pelo jornal O Estado de S. Paulo, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva negou que qualquer lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia tenha sido feita durante sua gestão no ministério. A informação vai de encontro com a fala do atual ministro, Carlos Minc, que disse ontem ter divulgado a relação feita em janeiro ou fevereiro, quando Marina ainda era responsável pela pasta. "Somente em 11 de março foi criada força-tarefa para analisar os autos de infração e processo administrativo para que pudéssemos fazer a cobrança. Tudo passava por um critério muito rígido. Se quisesse uma manchete fácil, poderia ter divulgado qualquer lista, sem nenhum critério. Eu não quis", disse ela.
Ela ainda afirmou que não divulgaria nenhuma lista sem saber o conteúdo. "Não posso dizer que ele errou ou não. Isso não me compete. Sei que, se estivesse lá, nenhuma lista teria sido divulgada sem que eu gerenciasse o processo", afirmou.
A ex-ministra contou que está preocupada com o aumento do desmatamento. "Nunca estive tão apreensiva. Porque tivemos uma queda do desmatamento em três anos consecutivos. Agora teve esse aumento de 134% em relação a julho e 229% em relação a agosto do ano passado. Sei que o período é difícil, porque tem o aumento do preço das commodities, a estiagem é longa e há eleições". Segundo ela, é preciso ações. "É fundamental retomar o plano de combate ao desmatamento e não afrouxá-lo".
Qualificação dos dados
Segundo Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), que também concedeu entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, a divulgação da lista não é suficiente, pois falta uma estratégia sobre as ações posteriores. "Isso só demonstra que a gente continua trabalhando a questão do desmatamento na lógica do comando e controle e que a gente não consegue avançar em outras ações, de desenvolvimento socioeconômico, que mudem a realidade do que está acontecendo no chão".
Questionada se o fato da publicação da lista amplificaria as ações de combate ao desmatamento, Adriana respondeu que é preciso qualificação. "Só se, após a lista, houver a garantia do pagamento das multas, a responsabilização das pessoas e a destinação da área. Falta qualificar essa lista. Falta estratégia do que será feito a seguir. E as medidas anunciadas pelo ministro não trazem muitas novidades em relação ao que já vinha sendo feito".
Histórico
Na segunda-feira (29) o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou que houve, em agosto deste ano, 756 quilômetros quadrados de novas áreas desmatadas. O resultado indica um aumento de 134% em relação a julho, quando foram desmatados 323 km² de desmatamento na região.
No mesmo dia, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, divulgou a lista com os cem maiores desmatadores da Amazônia. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) lidera a lista: as seis primeiras posições no ranking são de Assentamentos da Reforma Agrária, todos no Mato Grosso.
A informação gerou mal-estar no governo: o ministro do Desenvolvimento Agrário Guilherme Cassel afirmou ser uma grande injustiça atribuir o desmatamento aos assentados. Após as críticas, Minc afirmou ter divulgado a lista sem ter conhecimento do conteúdo, e disse que pode fazer uma revisão dela.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) terá 20 dias para acatar ou contestar as críticas do Incra.
(Amazonia.org.br, 01/10/2008)