Apesar dos inúmeros projetos envolvendo o plantio da cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul, entre eles, uma unidade de polímero verde da petroquímica Braskem, especialistas duvidam que regiões do Estado se transformem em imensos canaviais.
O engenheiro agrônomo da Fepagro, Jaime Maluf, revela que estudos realizados pela entidade em parceria com Embrapa e Emater apontam que o Rio Grande do Sul tem pelo menos 800 mil hectares aptos para o plantio da cana. Ele afirma, porém, que o Estado não sofrerá com o maior passivo ambiental da cultura, que é a sua queima, já proibida por aqui há bastante tempo. Maluf justifica um eventual aumento da área plantada como sendo inevitável em razão dos diversos projetos relacionados à produção de etanol, um combustível menos poluente do que qualquer outro derivado do petróleo.
“Evidente que apesar da elevação da área plantada o Rio Grande do Sul não se transformará num mar de cana. Precisamos entender que é impossível o homem viver da agricultura orgânica por mais que ela seja incentivada”, completa.
Apesar do Zoneamento Agroclimático que será divulgado em novembro pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) não contemplar aspectos ambientais, o técnico da Fepagro lembra que a legislação vigente já é bastante restritiva com a garantia de proteção aos mananciais, Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal.
Outro fator impeditivo para formação de monocultura da cana seria a forma como a colheita é feita atualmente, totalmente mecanizada. “Áreas como os Campos de Cima da Serra não têm como serem aproveitados”, destaca. Ainda assim, acredita, “muito provavelmente será exigido do produtor a licença ambiental”.
O engenheiro recorda que há pelo menos 20 anos a Fepagro apresentou ao governo do Estado um estudo similar ao que será divulgado pelo MAPA. Trata-se do Zoneamento de Risco Climático, que levou quase dois anos para ser concluído e que foi uma atualização de diversos estudos com a inclusão de outros parâmetros como probabilidade de geadas e balanço hídrico, que ainda não haviam sido contemplados. “É um estudo bastante abrangente, mas que não é oficialmente adotado pelo MAPA”, explica.
Conforme o assistente-técnico em Agroenergia da Emater, Alencar Rugeri, o Rio Grande do Sul possui 35 mil hectares plantados com cana espalhados principalmente no Litoral Norte, Região do Salto do Jacuí e na Região de Porto Xavier, onde há uma usina em funcionamento.
Ele acredita que o levantamento do MAPA deva apresentar uma tendência de concentração no Litoral Norte avançando para a Região Central entre os municípios de Encruzilhada, Cachoeira do Sul. Outra região favorável é a parte noroeste até a encosta do Uruguai.
Rugeri concorda com seu colega da Fepagro com relação ao avanço indiscriminado da cultura. Ele explica que o Zoneamento vai oportunizar um melhor aproveitamento do solo, já que a cana será um complemento para outras culturas. “A perspectiva é que tenhamos um equilíbrio, ou seja, que se evite a monocultura de qualquer tipo. O produtor poderá diversificar, mas claro que é um modelo proposto e sua execução dependerá de outros fatores”, diz. O potencial do Estado para plantar cana, segundo o técnico da Emater, é de cerca de um milhão de hectares.
Laboratório americano analisa polipropileno verde gaúcho
O laboratório norte-americano Beta Analytic Inc., analisou no mês passado o polímero verde fabricado pela Braskem. A intenção era certificar sua origem renovável através de metodologia para detecção de carbono fóssil nas amostras verificadas. Certificados idênticos haviam sido emitidos para o polietileno de alta densidade e o de baixa densidade linear verdes, que estão sendo produzidos em planta-piloto da empresa em Triunfo. As amostras foram obtidas primeiramente em escala de laboratório e na seqüência em planta-piloto, onde se produziu homopolímero e copolímeros.
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A petroquímica está implantando em Triunfo um projeto para produzir polietileno verde em escala industrial com capacidade para 200 mil toneladas/ano, com início de operação previsto para 2011. Parte considerável desse volume já está destinada ao mercado asiático e será distribuída pela Toyota Tsusho Corporation, trade company do Grupo Toyota, com quem a Braskem anunciou acordo de distribuição para aquela região. Os investimentos somam US$ 150 milhões.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 02/01/2008)