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desmatamento da amazônia marina silva carlos minc
2008-10-01

BRASÍLIA - Acabou a política dos panos quentes para esconder as divergências. Isolada no interior do Acre, sem televisão ou acesso às notícias, a senadora Marina Silva (PT), ex-ministra do Meio Ambiente, fez nesta terça-feira pela primeira vez críticas pesadas à maneira como seu sucessor, Carlos Minc, divulgou na segunda a lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia - no mesmo dia em que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgava o crescimento de 133% no desmatamento da Amazônia.

Evitando citar o nome de Minc, Marina, como mostra a reportagem de Catarina Alencastro publicada nesta quarta-feira no "Globo", classificou de pirotecnia tornar pública uma lista sem sequer tê-la lido, como Minc alegou diante das reações do Incra.

Na sua gestão foi elaborada uma lista de desmatadores. Por que ela só está sendo divulgada agora?
Marina Silva -
A lista estava sendo preparada e, no momento oportuno, seria apresentada. A minha surpresa é dizer que havia interesse em ocultar lista. Isso não faz parte do meu caráter. Todos os que estavam sendo multados estavam aparecendo. Quando eu saí, isso estava em pleno funcionamento. A lista é resultado de um trabalho. Não sei por que não foi anunciada antes.

Por que a senhora quis esperar para fazer a divulgação?
Marina  -
 Não é questão de esperar. É uma questão de ser responsável. As coisas sempre foram feitas com critério. Em agosto de 2007, quando identificamos que o desmatamento tinha voltado a crescer, tomamos uma série de medidas, entre elas um decreto do presidente Lula criando um grupo de trabalho de responsabilização ambiental. O objetivo era identificar os maiores criminosos e instruir os processos para processá-los criminalmente. Em 11 de março deste ano, foi assinada a portaria que criou a força-tarefa para dar instrução aos processos e preparar a lista dos cem maiores desmatadores.

Mas a lista não foi divulgada.
Marina -
 Na hora em que eu divulgasse os nomes de forma pirotécnica, estaria prestando um desserviço, avisando aos desmatadores de forma antecipada. O grupo estava acontecendo há três meses quando eu saí. Se passaram sete meses e foi divulgado sem que ninguém tenha lido, as coisas ficaram, parece, num grande ato. A lista era um processo que tinha que ser instruído, para produzir provas, fazer perícia para ser eficaz. Ficar só no anúncio... O que vai fazer a diferença é a resolução do Banco Central (restringindo crédito aos desmatadores) e também a criminalização da cadeia produtiva do desmatamento.

A senhora já sabia então que os assentamentos do Incra apareciam no topo dessa lista?
Marina -
Essas informações foram divulgadas pelo Tribunal de Contas da União, que fez um estudo dando conta de que os assentamentos do Incra eram responsáveis por 18% do desmatamento no ano passado. Na época, foi feito esse questionamento e foi dito que 80% são responsabilidade dos grandes e médios (agricultores). O que eu lamento é que, num momento dramático como este, em que o desmatamento (de agosto) aumentou 133% em relação a julho, fica toda essa cortina de fumaça discutindo se os culpados são os pequenos ou os grandes, quando se tem que ter medidas estruturantes para todos.

(Diário do Pará, 01/10/2008)


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