Petrobras começa em 2009 a testar sistema que joga o CO2 em poços submarinos, diminuindo a poluição do ar
A polêmica tecnologia que permite capturar e enterrar o gás carbônico no subsolo dos oceanos - conhecida como captura e armazenamento geológico de carbono - começa a ser testada no primeiro semestre de 2009 no Brasil. A Petrobrás vai começar a operar os primeiros pilotos da tecnologia, em áreas já usadas para exploração de petróleo, na bacia de Campos e no campo de Miranga, na Bahia.
O processo de injetar gás carbônico em poços de petróleo é uma prática já conhecida entre as petrolíferas, pois ajuda a aumentar a produtividade dos poços de exploração. Agora, a intenção das empresas seria compensar uma parte da poluição que, lançada na atmosfera, contribui para causar o efeito estufa. No processo, o carbono que seria lançado pelas refinarias é capturado por dutos, e o gás é injetado no subsolo.
"Essa técnica já é usada para aumentar a produtividade dos campos de óleo desde a década de 1960 nos Estados Unidos, e no Brasil desde 1987. A diferença agora é a escala em que vai ser feita, e com o propósito de manter o CO2 armazenado no subsolo por muito tempo", diz João Marcelo Ketzer, coordenador do Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (Cepac), ligado à PUC/RS.
Segundo o pesquisador, alguns projetos-piloto já estão em desenvolvimento no País. São minas de carvão e aquíferos salinos que estão sendo testados para armazenar carbono. A expectativa da Petrobrás é estocar 10 milhões de toneladas de CO2 até 2014. No Cepac, já são 65 pesquisadores desenvolvendo estudos sobre o tema, com um orçamento de R$ 35 milhões, a maior parte da Petrobrás e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
No mundo todo há três grandes projetos em andamento: na Noruega, pela petrolífera Statoil, no Canadá, pela EnCana, e na Argélia, pela BP. "A princípio, empresas de todos os setores podem compensar suas emissões com a tecnologia. As petrolíferas estão liderando esse processo porque já têm know-how", diz Ketzer.
PALIATIVO
O uso da tecnologia, porém, é polêmico. Embora figure como uma das sugestões para combater o aquecimento global por parte dos cientistas do IPCC, o painel do clima da ONU, os críticos acham que é só uma maneira de varrer o lixo para debaixo do tapete. Segundo o IPCC, até 2050, será preciso eliminar 25 bilhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera, e o processo de captura e armazenamento de carbono poderia estocar pelo menos 20% desse volume.
Para Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace, o investimento na tecnologia de estocagem de carbono é um paliativo. "Alguns vêem essa tecnologia como a corrida ao pote de ouro. Mas pesquisas já mostram que não será possível usar a tecnologia em larga escala antes de 2030, o que faz perder sua eficácia para conter o aquecimento global", avalia. Outros entraves são o alto custo do sistema e questões de segurança.
Essas preocupações levaram outra ONG, o Instituto Ecoar, de São Paulo, a traçar o primeiro estudo dos impactos socioambientais da tecnologia.Segundo a diretora do Ecoar, Miriam Duailibi, a tecnologia pode permitir que o País explore os recursos do petróleo sem ônus para o meio ambiente e a população. "A demanda por energia no mundo só cresce, e, por mais que nós queiramos fontes renováveis, ainda vai levar de 20 a 30 anos para que essas fontes se tornem baratas. Ainda vamos precisar dos combustíveis fósseis."
(Por Andrea Vialli, O Estado de S. Paulo, 01/10/2008)