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movimentos sociais mst sem-terra
2008-10-01

 
O coronel Paulo Roberto Mendes Rodrigues fica incomodado em ser chamado por críticos de capitão Nascimento dos Pampas, alusão ao policial que, no filme “Tropa de Elite”, exibe truculência à frente do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro. Temido por defender linha dura no comando da Brigada Militar (BM), a Polícia Militar do Rio Grande do Sul, ele se inflama ao falar do filme e garante que, diferente do fictício Nascimento, cumpre a lei à risca e exige o mesmo de todos. O policial não esconde posições controversas. Defende a pena de morte e fala que, ao contrário do que colegas de farda costumam recomendar, cidadão tem sim que reagir a assaltos. Com igual firmeza, garante que as seguidas críticas que sofre de movimentos sociais não têm fundamento. Nesta entrevista exclusiva, chega a ficar nervoso e engasga ao ser questionado sobre a denúncia de que, durante ação em acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Canguçu, no último dia 10, até crianças foram revistadas. Ele nega e insiste: “seguimos a lei.”

Folha Universal - Como tem sido o trabalho à frente da Brigada Militar?
Paulo Mendes -
Procuramos desenvolver ações baseadas em três verbos prioritários: abordar, prender e apreender. Vivemos em um mundo de criminalidade violenta. A polícia tem que ser forte. Em 2007, mais do que dobramos o número de prisões no estado. Foram 70 mil contra 30 mil em 2006. Este ano, no primeiro semestre, realizamos 72 mil.

O cidadão deve reagir a assaltos?
Mendes -
O artigo 144 da Constituição diz que segurança pública é dever do Estado, mas responsabilidade de todos. Nos últimos anos, a população cada vez mais coloca o passo para trás, coloca grade, alarme, cachorro. Nada disso resolve. Sempre que tiver oportunidade, o cidadão tem que reagir.

E que acha da pena de morte?
Mendes -
Eu sou favorável. A maioria dos delitos graves são cometidos por pessoas com lastro grande de registros criminais. O que fazer? As pessoas matam, cumprem pequena parcela nos presídios, e retornam para cometer os mesmos delitos. Vimos agora na Olimpíada que a criminalidade é muito baixa na China porque a lei é forte. A lei tem que intimidar o cidadão. Principalmente o cidadão delinqüente.

O senhor é chamado de Capitão Nascimento dos Pampas. Dá para comparar a Brigada Militar e o Bope do RJ?
Mendes -
Não, são coisas diferentes. A BM procura agir dentro da legalidade, usando a força que a lei confere. No filme, a gente viu muita ilegalidade, abusos. Isso não faz parte da nossa estratégia de trabalho. Somos defensores de uma polícia forte, enérgica. O delinqüente atua quando a polícia é fraca. Quando a polícia é forte, o bandido tende a ser fraco.

Entre os que fazem críticas estão movimentos sociais. Como anda a relação da BM com eles?
Mendes -
Bastante tranqüila. Temos a lógica do cumprimento da lei. Se o movimento está dentro da lei, não tem problema. Agora, quando transgridem a lei, tomamos atitudes. Com relação ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que faz invasões sucessivas, a BM tem seguido mandados para retirá-los, identificá-los e submetê-los às autoridades judiciárias. A regra é clara no Rio Grande do Sul. Invadiu, tem que sair. Se não sair, a gente tira.

Mesmo em manifestações tem sido feito cadastramento. Por quê? Existe um trabalho da Inteligência da BM em relação aos movimentos?
Mendes -
A BM não tem feito nenhum cadastramento, isso é conversa dessas pessoas. O que a BM tem feito é identificá-los e submetê-los ao poder judiciário. Só isso. Não há cadastro, só a identificação. Quanto à Inteligência, a BM tem acompanhado todas as questões referentes à ordem pública. Não podemos ser pegos de surpresa. Temos acompanhado e, inclusive, temos nos antecipado a várias ações do MST.

Os deputados Adão Pretto e Dionilso Marcon, do PT, criticaram a ação da BM na Fazenda São Paulo II, em São Gabriel. Segundo eles, barracos foram rasgados e pás de terra colocadas em panelas com comida. Como são as visitas a acampamentos?
Mendes -
A BM não visita acampamentos. A BM só entra em acampamentos quanto há perturbação da ordem ou por decisões judiciais. Com relação a esses episódios da Fazenda São Paulo II, a BM desconhece e afirma que não ocorreu nada disso. Esses movimentos baderneiros tentam informar os meios de comunicação de coisas que não ocorreram para tentar se esquivar de delitos cometidos por eles. Neste episódio, a BM entrou baseada em mandado judicial acompanhada do ouvidor do Estado e de uma advogada do MST. Nenhum registro foi feito. É tudo choradeira. Não adianta fazer esse tipo de pressão porque a BM vai continuar na mesma linha, sempre observando a lei, direitos e garantias individuais.

No dia 10 de setembro, durante vistoria em acampamento em Canguçu, integrantes do MST relataram que houve revista de crianças. É verdade?
Mendes -
Eles invadiram duas vezes a Fazenda Armada e um magistrado expediu ordem judicial de busca, apreensão e identificação civil de todos os integrantes. Foi o que foi feito. Para nós, não há nenhum incidente a não ser o cumprimento da lei.

As crianças foram revistadas?
Mendes -
(cinco segundos de silêncio e duas tossidas) Acredito que não. Acredito que só foi feita uma visualização nelas. Com as crianças, aí a gente tem que ter um cuidado maior, evidentemente.

Tem sido necessário o uso de força no combate a movimentos sociais? São grupos armados?
Mendes -
A BM tem feito o trabalho de acordo com a lei e o resguardo da população. Nós vamos alongar essa conversa que não sei para que lado vai. A BM age de acordo com a lei que não foi a BM que fez. Se não agirmos de acordo com a lei vamos prevaricar, e isso é crime.

(Por Daniel Santini, Folha Universal, 30/09/2008)


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