O Vietnã será em 2100 um dos países mais afetados pela mudança climática, ao enfrentar elevação de um metro no nível do mar em seu litoral, alertam especialistas. Nessa ocasião o mar engolirá 5% do território, 7% das terras agrícolas e 11% de sua população. “Apenas os vietnamitas podem dizer ao povo do Vietnã o que fazer”, disse à IPS Nguyen Huu Ninh, que integrou o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática que em 2007 recebeu o Prêmio Nobel da Paz, junto com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore (1993-2001).
Ninh teve um papel ativo na criação da Rede Vietnamita para a Sociedade civil e a Mudança Climática, que faz a ponte entre organizações não-governamentais com empresários locais e instituições oficiais. “Muitas organizações internacionais atuam no Vietnã. Isso leva à dependência”, alertou Ninh. A criação dessa rede é um dos passos dados recentemente por governo e grupos da sociedade civil como resposta à ameaça de devastação que representam o aumento do nível do mar e, num prazo mais curto, as cada vez mais freqüentes tempestades e inundações.
Um estudo divulgado há pouco pela organização não-governamental World Vision destaca que os países pobres deverão sofrer a maior parte das conseqüências causadas por anos de emissões contaminantes nas nações ricas. “Esperamos que os governos desses países assumam sua responsabilidade”, disse Ninh. “Nosso nível de contaminação não é tão alto: uma tonelada de carbono por habitante a cada ano”. Porém, as emissões aumentam de maneira sustentada no Vietnã, devido ao seu rápido crescimento econômico. Os esforços em matéria ambiental estão centrados na adaptação, não na redução do volume de gases causadores do efeito estufa liberados na atmosfera. Os automóveis e as motocicletas são a causa fundamental da contaminação nas cidades vietnamitas.
“O Vietnã é uma pequena nação em desenvolvimento que tenta promover o crescimento econômico. Se o governo considerar que a falta de proteção ambiental ajuda nesse objetivo e protege os investimentos estrangeiros, aceitará seguir esse caminho”, afirmou Nathan Sage, da organização ambientalista Indochina Carbon, com sede em Hanói. As zonas mais afetadas pelo aumento do nível do mar seriam os deltas dos rios Mekong e Vermelho, onde se produz grande quantidade de arroz. A água marinha poderá alagar 45% do delta do Mekong. O Vietnã é o primeiro produtor mundial de arroz e o segundo exportador, atrás da Tailândia. “Talvez devêssemos optar pela tecnologia na agricultura. Os fertilizantes e pesticidas destroem o meio ambiente. Temos de pensar na transição”,. Afirmou Ninh.
Mas o aumento no nível do mar é um problema no longo prazo e os especialistas mais otimistas acreditam que poderá estar estabilizado até 2050. De imediato, o Vietnã terá de se preparar para enfrentar as tempestades e inundações, que não constituem uma novidade, mas cuja freqüência e intensidade aumentaram nos últimos anos. O governo estabeleceu um programa de alerta de inundações, mas seus resultados não são animadores. Falhou em Lao Cai e Yen Bai em agosto, por ocasião das inundações provocadas pelo tufão Mammuri, que causaram a morte de 129 pessoas. Não se tratou de um fato isolado. Em maio de 2006, centenas de pescadores perderam a vida durante o tufão Chanchu, porque ninguém os alertou para retornarem à costa.
Nguyen Thi Mai Loan, moradora de Lao Cai, disse à IPS que “a tempestade chegou muito rapidamente e não foi possível fazer nada. Minha família está bem, mas outros estão sofrendo muito”. Entretanto, Loan acredita que o sistema de alerta é útil. Outras pessoas discordam. Lam Ngoc Vinh, morador em Bac Can, considera o sistema totalmente ineficiente. Perguntado qual sua opinião sobre a mudança climática, admitiu que jamais ouviu alguma menção sobre o assunto.
(Por Helen Clark, Envolverde, IPS, 30/09/2008)