Se antes o Brasil precisava importar para atender a demanda nacional, com as reservas do pré-sal o país passa a ser exportador de petróleo, garantindo a segurança energética para sustentar seu crescimento. Este é o principal motivo para os brasileiros festejarem as descobertas do pré-sal na avaliação do engenheiro Roberto Schaeffer, professor da Coppe/UFRJ e doutor em Planejamento Energético.
“O Brasil teria petróleo até o final do século”, afirma, se referindo as estimativas do mercado de uma reserva pré-sal de 50 bilhões de barris de petróleo.
A Petrobras tem hoje reservas provadas de 14 a 15 bilhões de barris de petróleo, o que seria suficiente para atender a demanda brasileira por, no máximo, mais 20 anos. “Não se sabe ainda o volume real da reserva, pois falar em reserva é falar em petróleo que é técnica e economicamente viável de ser extraído”, ressalta Schaeffer.
Por isso, as divulgações da estatal são feitas em doses homeopáticas, conforme a possibilidade de extração de petróleo é confirmada em cada um dos novos poços.
Tão importante quanto o próprio petróleo, o gás natural que existe nas camadas do pré-sal poderá ajudar o Brasil a resolver o impasse na Bolívia. “Não ficamos mais sujeitos a instabilidades políticas como o caso da Bolívia, pois não dependemos mais da importação”, explica Schaeffer.
O diretor-presidente do Instituto para o Desenvolvimento das Energias Renováveis na América Latina (Ideal) Mauro Passos, concorda. Ele diz que, pela possibilidade de ser a resposta do país a dificuldade que está tendo nas negociações com a Bolívia, a Petrobrás será pressionada pelo setor industrial para responder três questões do pré-sal ainda não resolvidas: o quê será extraído, a que preço e quando.
Além disso, o gás natural poderá atender a futura necessidade energética do país, com um menor impacto ambiental. Schaeffer afirma que, se o Brasil não quiser partir para o uso de carvão ou energia nuclear, poderá utilizar o gás natural do pré-sal para suprir esta demanda.
O professor da COPPE lembra que hoje 85% da energia brasileira vêm da hidroeletricidade. Em 2030, contudo, os locais disponíveis para obtenção desta energia sem a agressão ao meio ambiente terão praticamente se esgotado. “Com o consumo crescendo, vamos ter que tirar esta energia de algum lugar”, diz.
Schaeffer, que integra o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ressalta ainda que o grande vilão do aquecimento global não é necessariamente o petróleo. “Se pensarmos, o carvão é muito pior”, comenta.
Segundo o cientista, se todo o consumo de carvão do mundo fosse substituído por gás natural, o setor energético reduziria as emissões de dióxido de carbono (CO2) pela metade.
(Por Paula Scheidt, Carbono Brasil, 29/09/2008)