Alegando alto custo do glifosato e maior facilidade de escoamento pelos portos de Itacoatiara (AM) e Santarém (PA), os produtores das regiões oeste e noroeste mato-grossense já começam a substituir a soja transgênica e estão retornando ao plantio convencional.
Odenir Ortolan, com 5,5 mil hectares de soja na região oeste – Sapezal, Brasnorte, Campos de Júlio e Comodoro – optou este ano por plantar sua lavoura com 95% de sementes não-transgênicas.
“Estou reduzindo a cada ano a produção de soja OGM por dois motivos básicos: a facilidade de escoamento via portos de Itacoatiara e Santarém, que estão adaptados ao transporte de soja não-transgênica, e ao alto custo do glifosato”, esclarece Ortolan.
Segundo ele, em sua região 90% dos plantios são de soja convencional. “A redução dos OGMs vem caindo gradativamente, na medida em que se criam facilidade para escoamento da soja convencional e os custos dos transgênicos aumentam”.
O Grupo Scheffer, do megaprodutor Eliseu Maggi Scheffer, também irá cultivar este ano apenas 5% de soja transgênica nos municípios de Sapezal e Campos de Júlio. A mudança em relação à safra 2007/08 é notória: o grupo aumentará em 20% o plantio de não-transgênicos e, na mesma proporção, reduzirá o cultivo de OGMs.
“No ano passado plantamos 75% de não-transgênicos e 25% de transgênicos. Este ano, o cultivo convencional ficará com 95% da área e os OGMs com apenas 5%”, informa um dos sócios do grupo, Guilherme Scheffer.
Scheffer adianta que se os preços do glifosato continuarem subindo, na próxima safra reduzirá ainda mais o cultivo de transgênicos. “A vantagem [do não-transgênico] é o sistema de escoamento. Por outro lado, o manejo dos transgênicos é bem mais fácil, sem contar que existem mais variedades disponíveis no mercado”.
Com 40 mil hectares nas regiões de Lucas do Rio Verde, Sorriso, Tapurah, Trivelato, Novo Mundo e Ipiranga do Norte, o produtor Orcival Guimarães fez uma drástica inversão do plantio das duas variedades – transgênica e convencional – na safra 2008/09.
“Em 2007, 80% da nossa área foi de transgênicos e, 20%, convencional. Este ano resolvemos inverter estes percentuais: 20% apenas da área será de OGMs e, 80%, de não-transgênicos”.
A explicação para mudança é a de que não existem variedades adaptadas para a região e os custos do glifosato estão elevados.
“Se levarmos em conta esses fatores, vamos chegar à conclusão de que é melhor hoje plantar a soja não-transgênica”, enfatiza o sojicultor. “É mais difícil, dá mais trabalho, mas é a melhor opção para o produtor, no momento”.
Guimarães faz uma ressalva: “O produtor tem de fazer conta antes de plantar, ver o que é melhor para ele e se preparar para o futuro, pois daqui a alguns anos esta tendência [cultivo de OGMs] será irreversível”.
EUROPA - Principal mercado comprador da soja convencional de Mato Grosso, a Europa tende cada vez mais a optar pelos alimentos não-transgênicos ou orgânicos. A verdade é que a soja OGM não é bem-aceita pelo consumidor daquele bloco econômico.
Boa parte desse mercado aceitava soja transgênica mas, com a entrada em vigor da lei de rotulagem e de rastreabilidade imediata de transgênicos, e uso de código identificador único, até o mercado de farelo para ração de animais está optando por soja convencional em razão da ração precisar ser rotulada como contendo OGM (organismo geneticamente modificado) e a forte rejeição do público consumidor europeu contra os transgênicos se revelou.
“A verdade é que existem argumentos favoráveis ao cultivo dos transgênicos, mas também, existem razões para se defender a proteção de algumas áreas, em que os grãos seriam totalmente puros. O principal aspecto a ser considerado em favor dos alimentos modificados é o potencial de expansão da safra agrícola. Os grãos modificados têm maior resistência e necessitam de menos herbicidas, o que teoricamente barateia os custos de produção”, afirma o agrônomo Norimar Tironi.
(Diario de Cuiabá, Brasil, 28/09/2008)