Além de evitar enchentes, alguns reservatórios de contenção de cheias (os chamados piscinões) em São Paulo servem como criadouros de mosquitos. O problema foi constatado por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e foi tema do mestrado da bióloga Edna de Cássia Silvério. A espécie Culex quinquefasciatus (o popular pernilongo), foi largamente encontrada nos reservatórios pesquisados. Apesar de não transmitir patógenos, o Culex incomoda as pessoas com seu zunido e picadas. Segundo a pesquisadora, a superpopulação de pernilongos pode ser evitada com o saneamento dos piscinões.
A equipe da FSP pesquisou especificamente a fauna de culicídeos dos piscinões de Inhumas e Caguaçu, na Grande São Paulo, entre março de 2006 e fevereiro de 2007. Foram feitas coletas mensais das formas imaturas e adultas, que eram identificadas posteriormente em laboratório. “Observamos o desenvolvimento de larvas nos piscinões durante todo o ano, com algum aumento do número no período de secas, quando a água parada e poluída se acumula e favorece a reprodução. No período de chuvas, a densidade não foi maior, pois as águas carregam as larvas”, diz Edna.
Foram identificadas 13 espécies de mosquitos, sendo que o Culex quinquefasciatus foi a espécie dominante, representando 98% das amostras coletadas no piscinão de Inhumas e 92% no Caguaçu. O pesquisador Paulo Roberto Urbinatti, orientador de Edna e que também participou do estudo, explica que o Culex, em São Paulo, não é uma espécie vetora de agentes de doenças. “O importante é que, devido à altitude elevada e à temperatura amena, o Culex, na cidade de São Paulo, não transmite nenhuma doença. Mas as altas densidades desse mosquito é um problema de saúde pública, pois se torna um incômodo à população”, ressalta.
Em algumas cidades do Nordeste, o Culex quinquefasciatus é um vetor do parasita da Filariose, também conhecida como Elefantíase. Em alguns países o mosquito é vetor da Febre do Oeste do Nilo, uma doença que pode levar à morte, mas que ainda não é encontrada no Brasil. “ Em São Paulo, os principais incômodos são o zunido, que perturba o sono das populações próximas aos piscinões, e as picadas que podem causar reações alérgicas em alguns casos” explica Urbinatti.
Desenvolvimento facilitado
Edna explica que o ambiente extremamente poluído dos piscinões favorece o desenvolvimento das larvas dos mosquitos. Além do esgoto despejado nos rios e córregos próximos, a população acaba lançando muitos resíduos que as grades de contenção de dejetos não conseguem reter. “O Culex é um mosquito bem adaptado à área urbana. Na água suja e parada dos piscinões há muita matéria orgânica que serve de alimento às larvas. Mas essa mesma área poluída não favorece seus predadores naturais. O Culex, então, se reproduz sem nenhum empecilho”.
O piscinão artificial de Inhumas propicia muito mais o desenvolvimento de mosquitos, pelo fato de ser concretado. “A água não penetra no solo e toda a matéria orgânica se acumula ali”, diz Edna. Já no Caguaçu, como é natural, a água se infiltra no solo e o número de criadouros, apesar de ser considerável, não causa o impacto que o concreto causa. “A diversidade de mosquitos é maior no Caguaçu, porque há vários criadouros, porém, a densidade é menor que no Inhumas” ressalta.
Problema contornável
Apesar dos mosquitos, a finalidade dos piscinões vem sendo cumprida. O incômodo dos pernilongos não é maior que os prejuízos das enchentes. Urbinatti explica que os piscinões são uma obra social importante, pelo fato de conter as enchentes. “Os mosquitos são uma conseqüência totalmente controlável, desde que a manutenção seja freqüente. Os benefícios que o piscinão traz são maiores que os problemas”, diz.
Edna acredita que se forem realizadas pesquisas em outros piscinões, os resultados serão semelhantes aos encontrados no estudo, pois as condições são as mesmas. “Haverá criadouros de mosquitos se não houver manutenção e limpeza constante nos piscinões, além de um trabalho de educação ambiental junto à população” explica. Para os pesquisadores, sem o controle biológico os mosquitos aumentam.
Imagens cedidas pelos pesquisadores
Mais informações com Edna de Cássia Silvério, edna-silverio@usp.br. Pesquisa orientada pelo professor Paulo Roberto Urbinatti, urbinati@usp.br.
(Por Paulo Roberto Andrade, Agência USP, 29/09/2008)