O novo Plano Nacional de Mudança Climática é um retrocesso em relação às posições que o próprio governo vinha defendendo nas negociações globais de clima. A opinião é de José Goldemberg, professor da USP, um dos principais especialistas em política climática do país.
"Não vejo como melhorar o plano", disse Goldemberg à Folha. Para ele, o documento oficial, que será posto em consulta pública na segunda, é tão ruim que "nem vale a pena fazer sugestões" a ele.
O plano proposto pelo governo não fixa metas numéricas nem prazos para a redução do desmatamento, responsável por dois terços dos gases-estufa brasileiros. Limita-se a propor, com base nos programas atuais, que o desmatamento ilegal seja um dia reduzido a zero.
Sobre energia, o plano apenas lista medidas voluntárias e já em curso que podem, direta ou indiretamente, levar a alguma redução das emissões.
Segundo Goldemberg, ao se abster de compromissos, o plano recua do acordo de Bali, fechado em 2007, que teve apoio do Brasil. Na negociação, os países em desenvolvimento se comprometeram a adotar medidas "mensuráveis, reportáveis e verificáveis" de redução de emissões.
"O mínimo que eu esperava do plano nacional é que tivesse ações voluntárias mensuráveis, verificáveis e reportáveis para a Amazônia", diz o físico.
A Folha não encontrou ontem a secretária nacional do clima, Suzana Kahn, para comentários.
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 27/09/2008)