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mata atlântica reflorestamento gestão dos recursos hídricos
2008-09-26

Reconhecido como um dos lugares mais degradados da Mata Atlântica em todo o Brasil, o Vale do Rio Paraíba ganhou um aliado capaz de acender uma luz no fim do túnel da destruição regional. O projeto Novo Horizonte 1, desenvolvido pela não-governamental Floresta Brasil (RJ), começou a plantar mudas de espécies nativas em propriedades privadas espalhadas por cinco municípios, há um ano. Até agora, quatro hectares de solos degradados ganharam novas árvores, mas a expectativa é de que, até setembro de 2009, outros 135 hectares estejam cobertos de verde.

A história do Novo Horizonte 1 começou depois que a ex-esposa do engenheiro eletricista André Rívola se mudou para o Vale do Matutu (no sul de Minas Gerais), com as duas filhas do casal. Inicialmente perturbado com a perspectiva de ver suas herdeiras em uma cidade pequena, hoje Rívola não se arrepende. “Quando ia visitá-las, acampava no meio do mato e ficava lá sozinho, durante três ou quatro dias”, conta, para depois completar. “Aquela região tem muita floresta intocada, com intervalos de solos degradados”.

Durante essas viagens, André percebeu que o solo descoberto secava rapidamente depois de cada chuva. Em seguida, bastava entrar no meio da vegetação, poucos metros à frente, e notar a grande diferença de temperatura e de umidade. “Comecei a estudar, pensar, e descobri algo que na época não tinha coragem de falar, mas hoje eu afirmo: o subsolo brasileiro está secando”, diz. A partir daí, a constituição da Floresta Brasil transcorreu com naturalidade. O engenheiro reuniu os amigos – todos sem qualquer especialização ambiental, com exceção de um biólogo – e contou sua idéia de criar uma associação para proteger matas, nascentes e cursos d'água. A ong foi lançada em janeiro de 2004, com 19 membros.

Um dos primeiros trabalhos realizados pelo grupo foi percorrer o interior do Brasil e recolher depoimentos de seus moradores. A resposta era sempre a mesma: o que André viu em Matutu é, na verdade, uma realidade nacional. “O solo descoberto não segura mais a água, o que seca o lençol freático. Então, além de faltar o recurso para a população, reduz drasticamente o volume dos rios nacionais, formados pela soma das nascentes que, por sua vez, existem graças à água do subsolo”, diz.

Nova técnica de plantio
Após longo tempo de dedicação a estudos sobre o relevo nacional, a Floresta Brasil desenvolveu um projeto para recuperar terrenos devastados por anos de desrespeito ao meio ambiente e bateu à porta de possíveis parceiros. Entidades como Ibama, Embrapa Solos e Embrapa Agrobiologia aderiram à idéia e enviaram cartas de recomendação. Em 2006, Rívola inscreveu o Novo Horizonte 1 no segundo concurso Petrobrás Ambiental. Para sua surpresa e alegria, a iniciativa foi aprovada com uma injeção de recursos de R$ 1,5 milhão.

O contrato entre as partes, no entanto, só foi assinado em julho de 2007, muitos meses após o nome da Floresta Brasil ter aparecido na lista dos vencedores. Esse tempo, no entanto, serviu para que o engenheiro participasse de um curso sobre reflorestamento promovido pelo agrossilvicultor Ernst Goetsch. Isso mudou o rumo do Novo Horizonte 1. “Quando bolamos a idéia, achávamos que a técnica usada para o plantio de mata nativa era ótima, que não precisávamos nos preocupar. Mas percebi que, pelo contrário, ela estava equivocada”, explica.

Segundo o coordenador do projeto, o método amplamente utilizado no Brasil para o reflorestamento de espécies nativas é o mesmo adotado nas monoculturas de eucalipto: linhas separadas por três metros de distância, compostas por mudas dispostas a cada dois metros. O problema, explica, é que esse modelo serve à passagem de caminhões durante a colheita do eucalipto. O que não acontece em florestas de verdade.

“A técnica tradicional cria bosques comerciais, não uma floresta tropical”, diz Rívola. Para fugir do óbvio, o Novo Horizonte 1 seguiu os conselhos de Ernst Goetsch e explorou um lado alternativo do plantio. A equipe do projeto usa o conceito de ilhas para reflorestar a região: um círculo é delimitado dentro de um terreno degradado e toda a área interna recebe uma limpeza inicial. Depois, cerca de vinte mudas de diferentes espécies nativas são dispostas em companhia de frutíferas e leguminosas, que terão a função de crescer rapidamente para sombrear as outras árvores e tornar o ambiente propício ao seu desenvolvimento. Além disso, o solo no interior da ilha é coberto com adubo orgânico, que alimentará microorganismos. Isso mantém a terra úmida e cheia de nutrientes para as novas árvores. “Na técnica tradicional (monocultura), o solo fica muito exposto, o Sol bate diretamente nele e a chuva leva todos os nutrientes”, diz Roberto Dias Feital, engenheiro florestal do Novo Horizonte 1.

Para Rívola, uma das principais diferenças é a necessidade de monitoramento no método mais usado no Brasil, para as lavouras de árvores exóticas. “Durante cerca de três anos, os responsáveis pelo plantio fazem o coroamento, ou seja, mantém a área em volta do caule limpa. Daí, o solo continua ressecado e a árvore cresce com muita dificuldade. No sistema de ilhas, fazemos o oposto. Pois a floresta é isso. Estes círculos são micro-florestas”, afirma.

Custos menores
Um dos primeiros resultados avaliados pelo projeto é o baixo custo da técnica. Como o ideal é que se tenha matéria orgânica morta entre as mudas plantadas, não há necessidade de fazer qualquer monitoramento nas ilhas. Nunca. “O nosso custo é uma fração dos R$ 25 mil geralmente gastos para o plantio de um hectare na técnica usual”, informa Rívola. Mas a economia de recursos não é o único chamariz do projeto desenvolvido pela Floresta Brasil. Os ganhos ambientais são ainda mais animadores.

A reportagem de O Eco foi ao município de Miguel Pereira, na região serrana do Rio de Janeiro, para ver de perto a proposta do Novo Horizonte 1. Atualmente, ele alcança 40 propriedades privadas espalhadas entre Paty de Alferes, Mendes, Vassouras e Paulo de Frontain, além de Miguel Pereira. Foram as prefeituras municipais que manifestaram interesse em apoiar o projeto, que também conta com a assessoria técnica da Embrapa e do Ibama/RJ.
 
O primeiro ponto de parada foi o hotel de Belisa Ribeiro. No início do ano, ela plantou duas mil mudas nativas na encosta em frente ao seu empreendimento usando o método comum. Há cerca de 60 dias, a equipe do Novo Horizonte 1 perguntou à empresária se poderia plantar três ilhas no mesmo local, para comparar o crescimento das árvores.

Diante da resposta positiva, o cultivo foi realizado na estiagem e já mostra um aspecto mais verde e saudável do que as mudas anteriores. A diferença entre a umidade do solo nos círculos criados pela Floresta Brasil e no entorno das mudas dispostas no “sistema do eucalipto” é gritante – esse é muito mais ressecado.

“Nós oferecemos assistência técnica, mudas e participamos do primeiro plantio. Mas quem arca com os custos, como o transporte do esterco, já que não usamos adubo artificial, é o proprietário. Já conseguimos plantar 7 mil árvores, mas queremos chegar aos 200 mil”, diz André. Para tanto, um viveiro está sendo construído na sede do Novo Horizonte 1, no município de Sacra Família, ao lado de Miguel Pereira.

Mas a idéia, ele garante, é descentralizar o local onde as sementes se desenvolvem. Esse sonho começou a se tornar real em uma visita à propriedade de Ana Souza, que também recebeu mudas da Floresta Brasil. Ela está criando um viveiro próprio e liberou alguns hectares para o plantio de novas ilhas. “Trata-se de um sistema de agroflorestas. Ou seja, enquanto as mudas nativas não crescem e fecham o ciclo das leguminosas e frutíferas, essas dão alimento para a família”, explica André Rívola.

Outros objetivos
O crescimento das micro-florestas ajuda no retorno da fauna, na dispersão de sementes e no restabelecimento do ciclo hídrico da região. Mas, para atingir esta meta, o Novo Horizonte 1 sabe que precisa conscientizar a população local sobre a importância da Mata Atlântica. Há cerca de um mês, a mestre em Ciências Florestais Vanessa Andretta foi contratada como Educadora Ambiental do projeto. Vinda diretamente de São Paulo, aceitou o desafio de morar na pacata Sacra Família para convencer os jovens da região que é necessário preservar a natureza.

“Me encantei pela possibilidade de interferir, na prática, na crise ambiental. E, em nossas palestras, nas escolas e auditórios dos cinco municípios, temos visto que os jovens estão parando de se queixar para tentar mudar a situação”, afirma, empolgada. Durante as apresentações, a equipe relembra o processo de devastação do Vale do Paraíba – principalmente pela produção de café – e apresenta, na prática, a técnica elaborada por Ernst Goetsch e aprofundada pela entidade não-governamental.

Um outro objetivo do projeto é o de remediar algumas voçorocas. Verdadeiras cicatrizes em montanhas geradas por pancadas de chuva caindo sobre solos descobertos, elas tornam os terrenos praticamente inférteis. “Nesse caso, acho que o plantio tradicional é o mais válido, principalmente de espécies com rápido crescimento, como o güandu. Isso evitaria novas erosões”, comenta Rívola, que espera espalhar a iniciativa pelo Brasil. “Por isso o nome é Novo Horizonte 1. Queremos que ele seja apenas o primeiro”, finaliza o engenheiro.

(Por Felipe Lobo, OEco, 25/09/2008)


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