Nesta quinta-feira(25), festejou-se no Brasil o Dia do Rádio. O 25 de Setembro foi escolhido em homenagem ao seu precursor, o médico, antropólogo e educador Edgard Roquette-Pinto. Nascido nesta data em 1884, no Rio de Janeiro, Roquette-Pinto fundou em abril de 1923 a primeira emissora do país, a Sociedade Rádio, com o objetivo de difundir a educação e a cultura brasileira.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) estima que o rádio esteja presente na vida de mais de 90% dos brasileiros, em maior ou menor proporção. Usar esse alcance – comum no Ocidente - para debater problemas e soluções relacionados à conservação dos recursos hídricos é a proposta central da Rádio Água Internacional, um portal de internet que pretende agrupar conteúdos sobre o tema, enviados pelas Rádios Águas nacionais ora em construção nos países da América Latina e Caribe.
O escopo do projeto, sendo implantado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em parceria com a Itaipu Binacional e com o Centro Internacional de Hidroinformática (CIH), foi discutido de segunda-feira à quarta desta semana, no Centro de Visitantes da Itaipu Paraguay, na cidade de Hernandarias.
O grupo de trabalho, formado por comunicadores, acadêmicos e pesquisadores nas áreas de Hidrologia e Cartografia, entre outros, deliberou as linhas mestras da Rádio Água Internacional. Em termos gerais, a proposta é difundir trabalhos científicos e notícias que contemplem os desafios ligados à gestão sustentável da água, inclusive disseminando boas práticas, ou seja, cases de sucesso.
No Brasil, a experiência local já está em curso. Com apoio da Unesco, coordenação do Centro Internacional de Hidroinformática e do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), e operação do Instituto Água Vida, a Rádio Água – na verdade, também uma web-rádio - vem divulgando conteúdos voltados à preservação do meio ambiente e à sustentabilidade na região trinacional, localizada junto às fronteiras de Brasil, Argentina e Paraguai (clique aqui para conhecer).
“Esse evento é a semeadura de um conceito”, disse a AmbienteBrasil Cícero Bley, coordenador do Centro Internacional de Hidroinformática no Brasil. “Queremos implantar uma educação ambiental transformadora, alterando os cursos de procedimentos e práticas hoje vigentes”.
Bley registra que a implantação da Rádio Água Internacional via web-rádios dos países da América Latina e do Caribe contempla o respeito a tradições presentes em toda a região, baseadas na oralidade. “São culturas orais e, com isso, podemos ajudar também a revigorar línguas hoje a caminho da extinção”.
A idéia é que cada rádio nacional seja suprida por matérias veiculadas nas emissoras daquele país – entre comerciais, acadêmicas etc -, ao mesmo tempo em que os conteúdos podem ser reutilizados por outras, a exemplo das rádios comunitárias. Parte do material de cada país vai compor a programação da Rádio Água Internacional.
Ao final do encontro do Grupo de Trabalho, ficou estabelecido, como propósito básico da Rádio Água Internacional, promover “uma interação dinâmica e efetiva, no campo da investigação, tecnologia e gestão da água, fomentando o desenvolvimento sustentável, considerando que a água é um bem da natureza cujo cuidado é uma condição essencial para a vida do planeta”.
Determinou-se também que o período limite de implementação da Rádio Água de cada país será no Dia Mundial da Água (22 de Março), em 2010. Todo o projeto é baseado em softwares livres.
Dessa forma, a expectativa é criar uma vigorosa rede de conhecimento sobre todas as questões que envolvam a conservação e o uso sustentável da água, projeto cujos desafios estão sendo delineados. “Temos que determinar normativas para estabelecer essa plataforma de intercâmbio”, disse a AmbienteBrasil Pedro Domaniczky, coordenador do Centro Internacional de Hidroinformática do Paraguai, citando o grau de responsabilidade sobre a informação e propriedade intelectual como itens que ainda precisam ser avaliados.
Pauta Meio Ambiente
No caso brasileiro, o maior desafio talvez seja alimentar essa rede com periodicidade e padrão que despertem o interesse de outras emissoras em reproduzir os conteúdos e, claro, dos internautas.
Na terça-feira passada (23), foi apresentada, em Brasília, a pesquisa “Perfil sócio-econômico do Setor de Radiodifusão no Brasil”, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) sob encomenda da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).
O levantamento tem como base dados de 917 emissoras, quase um terço do total de cadastradas pela Anatel e pelo Ministério das Comunicações - as 3006 rádios convencionais, digamos assim.
Conforme os dados apresentados, as rádios AM pesquisadas ocupam 41,7% de seu tempo com programas informativos (jornalismo e variedades). É público e notório porém, que no noticiário desses meios predomina a editoria de Polícia, seguida nem tão de perto por Política.
Nas FM, o percentual destinado a jornalismo e variedades cai para 29,6%. Em ambas as freqüências, quantas destas emissoras eventualmente produzem uma reportagem ainda que de leve relacionada a meio ambiente?
Um bom filão pode estar justamente naquilo que a Rádio Água Internacional, afinal, é: uma web-rádio. Estas pululam pelo país e podem abraçar a proposta, que tem boas chances de acolhida também nas emissoras ligadas à Academia – por web ou por ondas.
(Por Mônica Pinto / AmbienteBrasil, 25/09/2008)