O governo da Turquia anunciou uma 'festa nuclear', chamou todos seus amigos e apenas um apareceu. Esse foi o resultado da licitação aberta para a construção do primeiro reator nuclear do país. Treze empresas demonstraram interesse inicial no projeto, mas o governo recebeu na quarta-feira apenas seis respostas - cinco delas de empresas que agradeceram o convite mas declinaram de participar da licitação.
A única proposta para a construção da primeira usina nuclear turca veio da empresa russa Atomstroyexport, em parceria com a companhia turca Park Teknik. Os grandes nomes da indústria não se interessaram em participar da festa nuclear turca. O governo local parece que não ofereceu agrados suficientes na forma de subsídios e garantias de crédito para atrair aqueles que pensam primeiro em lucro. Poluir um país com rejeitos radioativos e atrasar o progresso em energias renováveis custa muito dinheiro.
Resumo da ópera: a festa acabou. A lei turca de licitações impede que a concorrência para a construção de usina nuclear vá adiante com apenas uma empresa interessada. Esperamos que o ministro de Energia da Turquia não tenha aberto sua champanhe. Nós, entretanto, abrimos a nossa.
A história toda é um grande constrangimento para a Turquia e seus planos nucleares. E uma grande vitória para o Greenpeace, que tem feito campanha e ações para alertar a população local sobre os riscos dessa aventura nuclear no país.
Esta semana, 37 ativistas do Greenpeace e da ONG Global Action transformaram o Ministério de Energia da Turquia numa funerária para destacar os riscos de se estabelecer uma indústria nuclear no país. Os manifestantes foram presos depois de bloquear a rua em frente ao prédio governamental. Todos foram soltos em seguida.
A Turquia não tem usinas nucleares mas pensa em adotar a tecnologia como forma rápida e barata de suprir suas necessidades energéticas. O problema é que a energia nuclear é tudo menos 'rápida e barata'. Além de ser extremamente perigosa e suja, a energia nuclear coloca um grande peso financeiro sobre a população. O Greenpeace quer que o governo turco cancele seus projetos nucleares e invista em alternativas renováveis de geração de energia e em programas de eficiência energética.
Apesar das centenas de bilhões de dólares que foram dados à indústria nuclear no mundo nos últimos cinco anos, ainda não há solução para questões como o lixo nuclear e a segurança das usinas. Um reator nuclear produz em torno de 30 toneladas de lixo nuclear anualmente. Isso significa um adicional de até 14 mil toneladas por ano de lixo radioativo à quantidade já existente no mundo.
Após vazamentos radioativos recentes na Espanha e incidentes em reatores na França, Suécia e Japão, fica a pergunta de quão perto estamos de uma nova Chernobyl. Só na França são aproximadamente 900 incidentes em usinas nucleares por ano.
(Greenpeace, 25/09/2008)