Em três anos, Aragominas já desmatou 8% de sua área

A campanha eleitoral em Aragominas (TO) está concentrada em seus sete assentamentos rurais, onde as matas foram devastadas e moradores dizem ter saudades das florestas de pau-brasil. Os dois principais candidatos a prefeito culpam os assentados, que vivem na região há pouco mais de dez anos, pela devastação.

Os assentamentos abrigam cerca de 3.000 pessoas, 55% da população do município. Nos últimos três anos, Aragominas teve devastados 85 km2, o equivalente a 8% de seu território.

Com isso, está no topo do ranking dos municípios com maior área desmatada em relação ao seu tamanho.

Enquanto a cidade de Tailândia, no Pará, lidera a extração de madeira, Aragominas praticamente não tem mais árvores e alternativas, dizem os principais candidatos a prefeito.

Essa também é opinião de quem vive do aproveitamento da madeira. O marceneiro Elimar Sá Nascimento, 33, pode ser encontrado de braços cruzados na marcenaria onde trabalha em plena segunda-feira.

"Aqui o problema é falta de madeira para trabalhar", lamenta.

Os candidatos responsabilizam os assentados, mas dizem que os trabalhadores rurais não tinham alternativa. "O apoio [do governo federal] não foi o que eles precisavam. O que causou essa devastação foi a própria necessidade dos assentados", diz o candidato Antonio Mota (PR), 54, ex-prefeito (2001-2004).

"O nosso município está praticamente todo desmatado. Na região dos assentamentos tinha muito pau-brasil. Era uma área de muita reserva [de floresta]. O governo podia ter segurado essas áreas para preservação", diz o prefeito Divino Pereira da Silva, 51, conhecido como Rozico (PMDB), que disputa a reeleição. Ele foi o primeiro prefeito do município, instalado em 1993.

Mota e Rozico dizem que a campanha é baseada no corpo-a-corpo nos assentamentos onde ocorrem comícios à noite.

Chegar a essa região de embate entre os candidatos exige superar um caminho tortuoso.

A partir de Aragominas, percorre-se 75 km, a maior parte em estrada de terra, e cruza-se dois municípios até atingir os primeiros assentamentos. Para encurtar a distância seria necessário abrir uma estrada dentro de Aragominas, mas a prefeitura diz não ter recursos.

Na sede do assentamento Reunidas a Justiça Eleitoral entregava, num sábado, cerca de 300 títulos de eleitores. O assentado João Marques, 54, transferiu o título para o assentamento. "Assim posso cobrar o candidato em quem eu votar". Ele diz que a região era coberta de floresta de pau-brasil devastadas pelos assentados. Outros moradores como José Justino da Silva, 87, afirmam, porém, que os assentados já encontraram a região devastada por fazendeiros para abertura de pasto para os bois.

(Por HUDSON CORRÊA, Folha de S. Paulo, 26/09/2008)