Entrevista - Diretor da Anvisa ataca ética da malandragem dos agrotóxicos
Anvisa
contaminação com agrotóxicos
lei dos agrotóxicos
2008-09-25
Ex-ministro
da Saúde e hoje diretor da Anvisa responsável pela avaliação de
agrotóxicos, Agenor Álvares diz que, nos negócios relacionados a esses
produtos, muitas vezes prevalece a "ética da malandragem". Leia trechos
da entrevista.
FOLHA - Qual a conseqüência da liminar da Justiça proibindo a reavaliação dos agrotóxicos?
ANGENOR ÁLVARES -
A conseqüência é o retardamento de um processo que, para nós, é vital.
O papel da Anvisa é verificar qual tipo de malefício pode ser causado à
população [pelo agrotóxico] -para o trabalhador e para o consumidor. A
meu ver, é uma decisão totalmente equivocada. O mais grave é
que foi tomada sem nos ouvir antes.
FOLHA - Por que o sr. acha que o juiz tomou essa decisão?
ÁLVARES - Ele tomou essa decisão com informação de apenas um dos lados, um lado cujo interesse maior é o interesse econômico.
FOLHA - Países como a China aumentaram a exportação de agrotóxicos para o Brasil depois da proibição em outros países.
ÁLVARES -
A China tem uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, tendo que
produzir alimentos para todos. Se ela julga que um produto está
causando malefícios aos trabalhadores e ao consumidor, nós teríamos que
simplesmente ba nir aquilo do nosso portfólio de importação. Nessa
área, eu nem titubearia, ancelaria de imediato, [mas] estamos impedidos
por causa da liminar. Me faz lembrar aquela frase do Nelson Rodrigues:
estamos voltando à condição de complexo de vira-lata. Não serve para lá
e serve para cá?
FOLHA - Há um conflito ético?
ÁLVARES - Lógico. Alguns países têm essa preocupação [ética]. Mas outros colocam
só o interesse comercial na frente. E, se tem alguém que quer comprar,
então a ética aí é a ética da malandragem. E a ética da malandragem, em
muitos dos negócios na área de agrotóxicos, é a que prevalece.
(FSP, Cotidiano, 23/08/2008)