De 21 a 27 de setembro comemora-se a Semana da Árvore. Pois, foi no dia 25 de setembro de 1992, que a Assembléia Geral da COTREL aprovou por unanimidade o Plano Cotrel de Reflorestamento. Esta decisão histórica pôs em prática um dos maiores programas brasileiros de implantação de florestas sociais que se têm notícias.
Segundo estudos da época, a região do Alto Uruguai possuía apenas 2.000 ha. reflorestados, equivalente a 0,5% do espaço territorial. A região era grande importadora de lenha de Montenegro. Na ocasião, 1 metro estéreo de lenha de acácia negra custava em Erechim 18 dólares, que nos dias de hoje seria próximo de R$ 70,00.
Lançado o Plano, outras entidades foram convidadas a participarem, como a Embrapa-Florestas, a AMAU, a Emater Regional Erechim, a URICER e a 15ª. CRE. Implantou-se um moderno viveiro de mudas florestais com capacidade de produzir 3 milhões de mudas/ano.
O Plano foi dividido em três grandes programas: 1) Fomento e extensão florestal; 2) Pesquisa cooperativa; 3) Educação florestal e ambiental. O Programa de Fomento e Extensão Florestal teve a adesão de 50 Prefeituras Municipais do norte do RS, e mais 12 municípios dos Estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Nos seus 10 anos iniciais, 20 milhões de mudas florestais exóticas e nativas foram a campo, correspondentes a 10.000 hectares de reflorestamento. Entre 2000 e 2007, pós-plano Cotrel, foram plantadas mais 20 milhões de mudas. O que equivaleria a 20.000 hectares reflorestados.
Contudo, devido às perdas por formigas, geadas, inços e pela exploração que se iniciou em 1997, estima-se que tenhamos hoje em torno de 10.000 ha. De área reflorestada em terrenos declivosos, de solos rochosos. O que corresponde a apenas 2,5% da área do Alto Uruguai.
Graças ao Programa de Pesquisa Cooperativa liderada pela Embrapa-Florestas, que aportou 12 pesquisadores na região, implantaram-se dezenas de florestas experimentais. Introduziu-se com sucesso, novas variedades de eucaliptos, como o grandis e o dunni; o pinus taeda e patula; e outras espécies promissoras, como o kiri da china e o pinheiro alemão. Também, no Setor Ervateiro, revolucionou-se o manejo com a introdução de novo sistema de poda, espaçamentos, adubação e produção de mudas em tubetes plásticos.
O Programa de Educação Florestal e Ambiental abrangeu 50 municípios da região norte, e teve a participação da 15ª CRE e de 36 escolas municipais e estaduais. Nestas, foram implantados os Arboretos (Museu de árvores vivas) e Florestas Demonstrativas (locais para demonstrações e pesquisas in loco). Em 1995 criou-se o terceiro maior Arboreto do Sul do Brasil, localizado no Povoado Sérvia, município de Barão de Cotegipe, que virou ponto turístico e educativo.
Em 1992, a Cotrel contratou o engenheiro Florestal Roberto Ferron para elaborar o Plano Cotrel de Reflorestamento. Em 1993, Ferron mudou sua residência, vindo morar definitivamente em Erechim, pois “encontrei receptividade, apoio, incentivo e principalmente, oportunidade para desenvolver meu principal sonho profissional, trabalhar com reflorestamento nas pequenas propriedades rurais”.
Segundo Ferron, todo este trabalho conjunto com entidades, órgãos de governo e comunidades, propiciou sinergia positiva para a criação e desenvolvimento de atividades que hoje são referencia regional, estadual e nacional, como: a Festa Regional do Frango Nobre, a Campanha Regional e Estadual de Combate às Formigas Cortadeiras, os Dias de Florestas, a Pesquisa Cooperativa Florestal, eventos comemorativos ao Dia Mundial do Ambiente e a Semana da Árvore, a Campanha Regional, Estadual e Nacional de Repovoamento do Pinheiro Brasileiro, o Congresso Estadual de Agroflorestas, os Programas Municipais de Reflorestamento, os Seminários Municipais de Ambiência, as Hortas Medicinais, os Minhocários, entre outros. Muitas dessas atividades viraram atividades e praticas técnicas.
Estes momentos riquíssimos e extraordinários mobilizarão centenas de pessoas, como autoridades, e pesquisadores, professores, alunos, técnicos, sindicalistas, cooperativistas, agricultores e cidadãos, que agregaram em suas atividades econômicas, sociais, ambientais e educativas, a prática do reflorestamento, como fator de desenvolvimento sustentável. Tanto que, mesmo a Cotrel saindo da atividade, esta continuou em pleno desenvolvimento, chegando ao ápice de se criar em 2002, a Floracoop-Cooperativa Florestal Ltda, primeira cooperativa florestal do Brasil.
Embora muitos não vejam e não reconheça, a silvicultura é uma grata realidade regional, uma nova cadeia econômica, que gera centenas de postos de trabalho, impostos aos municípios e renda aos proprietários rurais. “Para cada caminhão de lenha e toros de eucaliptos, uva japonesa e/ou pinus que transita em Erechim e municípios da região, tem o motorista e mais dez trabalhadores invisíveis, que trabalham no corte, baldeio, carregamento e desdobramento da madeira.
O que me gratifica como profissional, é ser sujeito destas ações, onde construímos uma nova cadeia produtiva no Alto Uruguai, nos tornamos auto-suficientes e exportadores de lenha, produtores de toras e madeira serrada para atender parte da demanda regional; ativamos empreendimentos ligados ao setor florestal/madeireiro, como a criação de um bom número de viveiros florestais capazes de produzir mudas de alta qualidade, exportadas para diversas regiões, inclusive outros estados; e empreendimentos que fabricam materiais e equipamentos para viveiragem – tubetes, grades, bandejas, aspersores, porta-iscas, semeadores, estufas, que também são exportados para outros países; já temos laminadora de madeiras e indústrias de móveis de eucaliptos e uva japonesa.
Além dos grãos, carnes, erva mate, leite e frutas, o agro-negócio regional conta com a madeira, como uma alternativa real e viável ao nosso desenvolvimento sustentável. Este caso prova que “os sonhos podem se transformar em realidades, mas é preciso sinergia de esforços, despidos de egoísmo e voltados para o bem comum”.
(Por Roberto Ferron, texto enviado por e-mail, 25/09/2008)
Presidente da FLORACOOP-COOPERATIVA FLORESTAL LTDA
Coordenador da Câmara de Engenharia Florestal do CREA/RS
Presidente da AGEF-Associação Gaúcha de Engenheiros Florestais