O leque de empresas que apostam no discurso ambiental para conquistar clientes aumenta a cada dia. Quando se trata desse assunto, no entanto, não adianta falar bonito. São as atitudes do cotidiano que fazem diferença na natureza.

Na TV, comerciais vendem a idéia de preocupação ecológica. Os argumentos até podem ser comoventes, mas, e por trás deles, como está a situação das empresas?

Fernando Costa, ambientalista da ONG Amigos da Terra, de Porto Alegre, diz que o empresariado brasileiro tem personalidade de avestruz. Esconde a cabeça e espera a fiscalização fazer cobranças. Só depois disso é que surgem as medidas em favor da sustentabilidade.

– Se eu não me informar dos estragos que minha empresa causa, durmo tranqüilo – ironiza.

Alguns desses danos têm efeito imediato no ambiente. Outros vão sendo sentidos ao longo do tempo. O fato de você imprimir todos os e-mails que recebe, por exemplo, é um hábito que, repetido em grande escala, representa milhões de árvores cortadas.

E lembre-se: não é porque você não paga a conta da luz da empresa que não precisa desligar o computador no final do expediente. Geração de energia elétrica exige muito da natureza. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia apontam que os empreendimentos desperdiçam, por ano, nada menos do que R$ 10 bilhões.

Professora do curso de Gestão Ambiental da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Susana Feichas conta que o ambiente entrou para a agenda empresarial há cerca de 40 anos. Desde então, três fases podem ser observadas.

A primeira delas é a de controle da poluição, em que os empresários vêem o ambiente como custo. Instrumentos jurídicos e punições começam a ser aplicados. Na segunda fase, o ambiente se alia à economia, transformando-se em ganhos de produtividade, competitividade e imagem institucional. Na terceira, tem papel estratégico, estimulando algumas atividades e inibindo outras.

– Onde estamos? Diria que nas três fases. O setor empresarial compreendeu que, para permanecer no mercado, deve considerar as questões ambientais, o que significa a exigência de profissionais qualificados para integrar a equipe. Hoje, conhecer o ambiente é uma competência essencial no mercado de trabalho – classifica Susana.

No Rio Grande do Sul, alguns setores já estão fugindo do comportamento de avestruz, mencionado por Costa. Conforme informações do Banco do Brasil, existem 349 planos de negócios em elaboração e implementação dentro da Estratégia de Desenvolvimento Regional Sustentável, em 370 municípios gaúchos, em projetos de bovinocultura de leite, apicultura, cultivo de uva, oleaginosas e hortaliças, reciclagem de plástico, entre outros. Mais de 34 mil famílias são beneficiadas com crédito para cadeias produtivas regionais que, em 2008, somarão R$ 72,2 milhões no Estado.

O que não pode acontecer, segundo Costa, é deixar que o tema se resuma a uma jogada de marketing, ou simplesmente a um selo verde ao lado da marca. O espírito de preocupação ecológica deve usar crachá e bater ponto na companhia. E do lado de fora também, é claro.

(Por Mauro Belo Schneider, Zero Hora, 25/09/2008)