Se há 15 anos atrás a utilização da energia do vento era uma aventura no seu início, e a fileira eólica uma miragem longíqua, hoje há um cluster instalado, milhares postos de trabalho criados e 40 por cento da electricidade consumida é proveniente de fontes de energia renováveis.
“Esperemos que, daqui a 15 anos possamos estar a dizer o mesmo do aproveitamento da energia das ondas que hoje aqui começa”, vaticinou o ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, na visita à plataforma instalada ao largo da Póvoa de Varzim, que ontem foi inaugurada.
Os empresários portugueses não estiveram à espera do repto ministerial e, ontem mesmo, a EDP e a Efacec anunciaram uma parceria para o desenvolvimento de projectos experimentais na área da energia das ondas, e a criação do consórcio Ondas de Portugal (detido em 45 por cento pela EDP, 35 por cento pela Enersis, e os restantes 20 por cento pela Efacec).
O desafio ao investimento efectuado pelo ministro foi secundado, de outra forma, por Antonino Lo Bianco, chefe europeu da infra-estrutura na Babcock & Brown, companhia australiana proprietária da Enersis – a empresa portuguesa que está a liderar o projecto, e é dona do parque de Ondas da Aguçadoura. Produziu pela primeira vez electricidade para a rede pública no dia 15 de Julho.
“Não há nada que melhor faça oposição ao que temos vindo a assistir nos mercados financeiros. À volatilidade das bolsas contrapomos este projecto, pensado a 20 anos, e que é muito seguro”, referiu. Apesar de estarem de saída do projecto – anunciaram publicamente a vontade de alienar a Enersis – os australianos dizem ter feito uma boa aposta em Portugal, onde contabilizam já investimentos de três mil milhões de euros em vários projectos. “Estamos muito satisfeitos por fazer parte disto”, afirmou.
O “isto” é o facto de Portugal poder apresentar-se, a partir de ontem, como o primeiro país com capacidade de produzir electricidade a partir da energia das ondas do mar. E de ter colocado, perante os olhos do mundo (via uma legião de jornalistas portugueses e estrangeiros que subiram à fragata Corte Real para rumar ao parque), uma bandeira de Portugal num Pelamis – a máquina desenvolvida por britânicos que vai permitir a produção de electricidade.
Mas se, ontem, a fragata portuguesa estava cheia de estrangeiros, a intenção parece ser de que a evolução do projecto passe cada vez mais por entidades nacionais. Aliás, segundo a parceria ontem criada, a EDP - Energias de Portugal ficou com uma opção de compra de compra de cerca de 15,4 por cento da participação que a Babcock & Brown detém no projecto de Aguçadoura.
A segunda fase do Parque das Ondas prevê um investimento global de 70 milhões de euros, para a construção e colocação de mais 25 Pelamis, cuja capacidade de produção instalada poderá chegar aos 21 MW e abastecer 15 mil famílias. A intenção é a de que, nesta fase, 40 por cento da estrutura necessária já possa ser construída em Portugal, estando a Efacec na linha de frente para o realizar.
(Por Luísa Pinto, Ecosfera, 23/09/2008)