A construtora brasileira Odebrecht afirmou nesta quarta-feira que, durante seu primeiro ano de funcionamento, a usina hidrelétrica San Francisco operou, sob a responsabilidade do governo do Equador, com capacidade superior à que havia sido projetada. A construtora brasileira respondeu às críticas do governo equatoriano por meio de um comunicado e disse estar disposta a chegar a um acordo "equilibrado" e "justo".
"Durante seu primeiro ano de operação, a Central (hidrelétrica) trabalhou continuamente, sob a responsabilidade de empresa do governo equatoriano, e acima da capacidade projetada", diz o comunicado emitido pela Odebrecht nesta quarta-feira. A empreiteira disse que após um ano em operação, a hidrelétrica passou por uma inspeção, na qual foram encontrados "alguns problemas pontuais na obra" e que, a partir de então, teria assumido o trabalho de reparação da usina.
"O Consórcio, liderado pela Odebrecht, imediatamente assumiu os trabalhos dos reparos, mobilizando aproximadamente 300 pessoas (...) visando o retorno da operação da Central em 04/10/2008, prazo este que estava sendo cumprido até a intervenção do governo", afirma a Odebrecht no comunicado.
Entre as possíveis causas das falhas apresentadas na hidrelétrica, a construtora brasileira afirma que houve um "aumento significativo de sedimentos" nas águas do rio Pastaza, que abastece a hidrelétrica, devido à erupção do vulcão Tungurahua, situado a 20 quilômetros da usina. Esse risco não teria sido calculado no projeto de engenharia, que de acordo com a Odebrecht, era de responsabilidade do governo equatoriano.
Perdas e ganhos
O governo equatoriano, por sua vez, afirma que a usina hidrelétrica apresenta "falhas estruturais" e exige uma indenização de US$ 43 milhões pelas perdas ocasionadas pelos três meses de paralisação, além da reparação total da obra. A construtora brasileira, que terminou a obra antes do previsto, argumenta que os prejuízos provocados desde o fechamento da usina “são inferiores aos ganhos obtidos pelos nove meses de antecipação do prazo de construção".
Com uma potência prevista de 230 megawatts e com capacidade para abastecer 12% da energia do país, a central San Francisco foi construída pelo Consórcio Odebrecht - Alstom - Vatech (empresas européias) e inaugurada em junho de 2007. A partir de junho de 2008 a San Francisco começou a apresentar falhas e logo depois foi fechada, o que, de acordo com o governo equatoriano, coloca em risco o abastecimento do país e poderia ocasionar apagões de energia.
Elevando o tom da disputa, o presidente do Equador, Rafael Correa, ameaçou nesta quarta-feira não pagar o empréstimo de mais de US$ 200 milhões concedido pelo BNDES para financiar a construção do projeto "que não presta". Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva amenizou o problema e disse, em Nova York, estar confiante de que será alcançado um acordo com o governo equatoriano.
Acordo
Na tarde desta quarta-feira, o ministro equatoriano de Setores Estratégicos, Derlis Palacios, disse que a medida do governo "não paralisa os projetos" em andamento. Na véspera, Palacios havia anunciado a "expulsão" da empreitera brasileira do Equador.
O ministro equatoriano, afirmou, porém, que o governo vai rever todos os contratos firmados com a empreitera. "O governo do Equador reitera sua disposição para reestudar todos os contratos firmados com a empresa Norberto Odebrecht devido à corrupção nos contratos que são ou foram prejudiciais ao governo do Equador", afirmou Palacios em entrevista coletiva.
Além da San Francisco, a Odebrecht é responsável no Equador por projetos de mais duas hidrelétricas, um aeroporto e um sistema de irrigação, todos ainda em fase de construção, que equivalem a um total de US$ 650 milhões. Em seu comunicado, a Obebrecht diz esperar que "a razão, o equilíbrio e principalmente a justiça prevaleçam, em ambiente de discussões técnicas" com o governo.
(Por Claudia Jardim, BBC Brasil, 24/09/2008)