O presidente do Equador, Rafael Correa, ameaçou na quarta-feira não pagar o empréstimo de mais de US$ 200 milhões concedido pelo BNDES para o financiamento das obras da central hidrelétrica equatoriana de San Francisco. A obra, que apresentou falhas na execução, é o pivô de uma crise entre o governo equatoriano e a construtora brasileira Odebrecht.
"Nós estamos pensando seriamente em não pagar o crédito do BNDES (...) que foi concedido por meio da Odebrecht para construção da hidrelétrica", declarou Correa durante uma entrevista a uma TV local. "Ainda mais um empréstimo de centenas de milhões de dólares, de mais de US$ 200 milhões, para um projeto que não presta", acrescentou.
Correa questionou o fato de o empréstimo ter sido direcionado diretamente à construtora, mas que "legalmente" consta como dívida interna do Equador com o Brasil. "É um dinheiro que nem entra no país", disse.
"Terrível"
Nesta terça-feira, Correa ordenou o confisco dos bens da Odebrecht e a expulsão da construtora do país depois de um desentendimento em um acordo no qual o Estado exigia o pagamento de uma indenização de US$ 43 milhões em conseqüência das falhas apresentadas na obra.
O presidente equatoriano disse que a crise com a Odebrecht não deverá afetar as relações bilaterais com o Brasil. "Não acredito que haja repercussões internacionais (...) Eu gosto muito do Brasil, mas o que essa empresa fez no Equador é terrível", afirmou.
De acordo com o governo, a San Francisco deixou de funcionar um ano depois de serem concluídas as obras e está paralisada desde seis de junho, quando técnicos apontaram falhas estruturais na construção. A hidrelétrica é a segunda maior do país, e sua paralisação estaria colocando em risco o abastecimento de energia no Equador.
Proposta
A construtora Odebrecht disse, por meio de um comunicado, ter uma proposta "altamente positiva para o governo equatoriano", em que resguarda as possíveis perdas da Hidropastaza, proprietária da central hidrelétrica. A empreiteira afirma estar disposta a pagar uma garantia de US$ 43 milhões exigida pelo Estado e contratar "uma auditoria internacional independente a fim de determinar as responsabilidades das partes envolvidas no projeto".
A construtora disse estar disposta a pagar os trabalhos imediatos de recuperação da central hidrelétrica, "independentemente do resultado da auditoria" e "estender a garantia da obra".
Em entrevista a uma rádio equatoriana, o ministro de Setores Estratégicos, Derlis Palacios disse que "todas as instâncias" de diálogo "foram esgotadas" entre o governo e a empresa, e que o acordo vinha se arrastando havia dois meses. Palacios disse que a Odebrecht "não voltará" ao país. "O Equador se cansou desta empresa, se cansou que manipule os organismos de controle", afirmou o ministro. "Tem que haver um novo futuro para a contratação pública no país."
(BBC, Ultimo Segundo, 24/09/2008)