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conservação da biodiversidade
2008-09-24

Um inovador projeto sul-africano de conservação da natureza, que combina proteção da biodiversidade e alívio da pobreza, enfrenta a resistência de ricos proprietários de luxuosos imóveis vizinhos. A iniciativa “Working 4 ecosystems”, lançada pela municipalidade de eThekwini no dia 12 de agosto de 2007, capacitou moradores dos arredores para restaurar espaços verdes e em volta do parque Giba Gorge, cerca de 25 quilômetros ao norte de Durban, na província de KwaZulu-Natal.

Trata-se de um projeto pioneiro, pois aspira equilibrar as necessidades sociais, a sustentabilidade ambiental e, por fim, a economia, ao aumentar o fluxo turístico na região. No próximo mês ficará determinado o futuro do plano. A população da área votará para decidir de Giba Gorge será ou não reclassificada como Área de Categoria Especial, “verde”, com impostos adicionais que serão investidos em melhorias ambientais. Mas, o que a municipalidade não antecipou foi o cepticismo de alguns moradores ricos cujas caras propriedades limitam com Giba Gorge.

A área está delimitada por duas comunidades que contrastam entre si: os ricos proprietários de terras de Winston Park, por um lado, e, por outro, os habitantes dos distritos de Tshelimnyama e Dassenhoek, onde impera a pobreza e o desemprego. Nos últimos tempos, os impostos municipais aumentaram em toda África do Sul. Os moradores de Winston Park são reticentes em aceitar outro aumento, embora seja mínimo, de US$ 5 mensais. As propriedades nessa comunidade valem várias centenas de milhares de dólares. Além disso, a municipalidade subsidiará o projeto de biodiversidade com US$ 18.500 ao ano.

Em troca do pagamento do dinheiro adicional, “Os moradores obterão uma reserva natural lindamente conservada, em que poderão caminhar e se exercitar de maneira segura”, disse Richard Bonn, gerente de planejamento de biodiversidade do departamento de Manejo ambiental da municipalidade de eThekwini. No ano passado foram feitas várias reuniões públicas para se conhecer a opinião das três comunidades que vivem em zonas limítrofes, o que causou duras discussões. Embora a maioria dos ricos do lugar apóie, no geral, os esforços de conservação, também dizem que, além do aumento de impostos, preocupa os limitados direitos de desenvolvimento e das compensações.

Algumas propriedades privadas fazem limite direto com o parque, e “se a área vai ser reclassificada, os proprietários terão restringidos os direitos de desenvolvimento de sua terra. Isto causou ansiedade. A maioria dos moradores parece estar apoiando, mas o teste será a votação”, disse Boon. Um morador de Winston Park, Mike Lorenz, defende os esforços de reclassificação. “Em anos recentes, muitos novos edifícios residenciais destruíram mangues e terras de florestas. Nos mudamos para cá pelo aspecto rural da área, e faremos todo o possível para mantê-la desse modo”, afirmou.

Lorenz acredita que o projeto não só conservará Giba Gorge como, também, vai melhorar a segurança da área, devido às oportunidades de emprego que cria, e que também objetivam reduzir a pobreza. O parque “se converterá em uma área procurada. Estou feliz de pagar dinheiro extra para que isto aconteça”, afirmou. Mas, outros moradores não estão dispostos a colocar a conservação da natureza à frente de seus interesses pessoais. “Alguns estão contra o projeto porque já não poderão vender parte de sua terra ou dividi-la. Outros não querem contribuir com o novo programa de impostos”, disse Lorenz.

Nenhum dos moradores que se opõe ao projeto de biodiversidade de Giba Gorge se mostrou disposto a conversar com a IPS sobre suas preocupações. No último ano e meio, dinheiro e esforços consideráveis foram investidos na conservação da área. O Departamento de Assuntos Ambientais e Turismo destinou US$ 435 mil à municipalidade de eThekwini para lançar o projeto “Working 4 Ecosystems”, implementado pela Sociedade de Natureza e Meio Ambiente da África do Sul (Wessa).

Esta entidade capacitou 70 pessoas de Tshelimnyama e Dassenhoek na conservação da natureza, incluindo administração de reservas, eliminação de plantas invasoras, iniciativas anti-saques, uso de herbicidas, manejo de incêndios, patrulhamento da área, primeiros socorros e também desenvolvimento e manutenção de caminhos. Giba Gorge é significativo para os fins de conservação por sua grande quantidade de raras espécies vegetais e animais. Alguns dos que foram treinados acabaram empregados como guarda-parque e guias turísticos.

A municipalidade espera que a criação de oportunidades de emprego sustentável também reduza a criminalidade na área. Caminhar por ali não tem sido seguro nos últimos anos, devido à grande quantidade de crimes, à existência de armadilhas e aos grupos de caça. “Embora a reserva quase não seja usada por questões de segurança, agora é muito segura”, disse a gerente de projeto da Wessa,Sudira Sing. Ela acredita que isto foi possível, em boa parte, porque o projeto combinou planejamento de biodiversidade com preocupações sociais.

“O aspecto social do projeto é importante, porque cria sustentabilidade através da capacitação em habilidades e no desenvolvimento de infra-estruturas”, concordou ecologista Errol Douwes, do departamento de manejo ambiental da municipalidade de eThekwini. “Além de criar empregos em Giba Gorge, também as ajudamos a instalar cooperativas, para que possam usar suas novas habilidades no setor privado”, acrescentou. Os que fazem esses cursos são incentivados a plantar árvores originárias em suas comunidades, por e exemplo. Seis moradores desses distritos estabeleceram seus próprios viveiros, para cultivar e vender plantas.

“O projeto me deu a possibilidade de melhorar minhas oportunidades de encontrar trabalho. Em minha comunidade, a maioria das pessoas está desempregada e tem pouca instrução”, disse Ntombi Ndlovu, que recebeu capacitação como guarda-parque. Douwes acredita que o projeto de conservação também tem o potencial de unir as duas comunidades que vivem de cada lado do parque: os pobres de Thselimnyama e Dassenhoek e os ricos de Winston Park. “É uma oportunidades para pessoas com antecedentes sociais muito diferentes encontrem um terreno comum”, afirmou.

(Por Kristin Palitza, Envolverde, IPS, 23/09/2008)


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