Falamos muito em deixar o carro na garagem e usar bicicletas e transporte público como uma forma de mitigar nossa pegada ambiental no planeta. Mas em tempos de economia globalizada, um meio de transporte que é insubstituível em algumas situações está ficando cada vez mais popular – e, conseqüentemente, ganhando o seu espaço na “lista dos culpados” pelo aquecimento do planeta: o avião.
O sonho de voar, perseguido pelo homem desde sempre, hoje pode ser considerado uma realidade e ganhou forma nos acelerados avanços da aviação (militar, comercial e executiva) assistidos no último século. Mas tamanho desenvolvimento não poderia passar incólume. Segundo dados das Nações Unidas, hoje o transporte aéreo – que gera aproximadamente 8% do PIB mundial - é responsável por 2% das emissões globais de gás carbônico, com previsão para que este número cresça para 3% até 2050. O número pode até parecer pequeno, mas os esforços visando uma aviação mais limpa não parecem ser. Inclusive no Brasil, um dos países que se destacam no mercado aeroespacial mundial por conta da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica, líder na fabricação de jatos comerciais de até 120 assentos.
Segundo a fabricante, estima-se que nos últimos 40 anos a aviação mundial tenha reduzido em 70% suas emissões de gás carbônico e óxidos de nitrogênio. Mas apesar desse bom resultado, as metas, principalmente de viabilizar combustíveis mais limpos, não param por aí. Na Cúpula de Aviação e Meio Ambiente, reunião internacional realizada em Genebra em abril deste ano, as grandes empresas da aviação mundial – entre elas Embraer, Boeing, Bombardier e Airbus - assinaram o Aviaton Industry Commitment to Action on Climate Change, no qual se comprometeram a acelerar os investimentos em tecnologias e materiais que diminuam o impacto da atividade no meio ambiente.
“É importante ressaltar que este compromisso envolve todas as partes da indústria de transporte aéreo, não só a fabricação de aeronaves. Cada empresa tem a sua responsabilidade neste processo e além da eficiência dos combustíveis, outro objetivo importante firmado neste encontro é a melhoria na elaboração de rotas aéreas, da gestão do tráfego aéreo e da infra-estrutura aeroportuária”, explica Guilherme de Almeida, responsável por estratégias de tecnologias de meio ambiente da Embraer, informando que o setor pretende alcançar um índice de 12% de eficiência do controle de tráfego aéreo nos próximos anos.
Jatos mais eficientes e bioquerosene
Almeida diz que a busca por melhorias no desempenho das aeronaves é uma prerrogativa seguida pela Embraer ao longo de seus quase 40 anos de história. Mas foi na última década que a fabricante nacional apresentou os primeiros resultados na área ambiental, alguns pioneiros em nível mundial. Em 2002, por exemplo, a empresa foi a primeira do setor aeronáutico mundial a obter certificação da norma ISO 14001, incluindo todos os processos, que já é aplicada em todas as suas plantas no Brasil e será expandida a todos os sites do exterior até 2009.
Quanto a resultados práticos de eficiência ambiental aliada à performance de aeronaves, a empresa já anunciou uma diminuição de 3% no consumo de combustível de jatos maiores, como o Embraer 190 e o 195, da família E-Jet (imagem ao lado), que já são operados por 51 companhias em 35 países espalhados pelo mundo. Um dos principais motivos para o bom resultado destes jatos foi o desenvolvimento de melhorias estruturais, que reduziram o arrasto aerodinâmico das aeronaves.
Em comparação a outros jatos maiores com um único corredor, os E-Jets são até 50% mais eficientes, consumindo menos combustível e transportando mais carga útil por quilo de estrutura de aeronave. Por isso, são considerados aviões de última geração, pois mantém os níveis de emissão abaixo das normas da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, sigla em inglês), órgão que regulamenta o setor.
“Estes jatos já incorporam características de projeto que os tornam mais eficientes do que o restante da frota em operação, mas continuamos investindo em novas tecnologias visando sempre o controle de emissões. Aí entra nosso esforço no sentido de desenvolver motores ajustados ao uso de bioquerosene, em vez de querosene”, conta Jorge Ramos, Diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Embraer. “O uso de bioquerosene ainda deve levar alguns anos para ser uma realidade, pois nem todos os motores das aeronaves em operação podem ser substituídos de uma hora para outra. Mas acreditamos que já poderemos ter as primeiras experimentações já num curto prazo”.
Enquanto o uso de biocombustível nos chamados motores à reação ainda está em um nível experimental, no caso dos motores a pistão, que usam gasolina de aviação, a Embraer já tem uma aeronave movida a etanol que se mostra viável. Em 2004 a empresa foi pioneira quando certificou o Ipanema (imagem superior), uma aeronave agrícola, para voar com álcool. Hoje já existem mil unidades do Ipanema a álcool operando no Brasil.
Compensação das emissões
Além da contribuição dada com os E-Jets e o Ipanema para o equilíbrio ambiental da indústria da aviação, a Embraer criou, no final de 2007, a Diretoria de Estratégias e Tecnologias de Meio Ambiente. A idéia da empresa é integrar e expandir as políticas ambientais e alcançar novos patamares de desenvolvimento sustentável, atendendo a crescente demanda do mercado global por “voar sem pegadas”.
Além da maximização da eficiência das aeronaves e da diminuição dos níveis de emissão, a empresa também já anunciou redução de níveis de ruído e uso de tintas menos poluentes (high solids), com menos solventes. Em tempo: a diminuição de ruídos dos motores, um dos requisitos mais exigentes dos órgãos reguladores internacionais, contrapõe a redução das emissões. Os dois têm uma interdependência e conseguir o seu equilíbrio é um dos grandes desafios da indústria da aviação para os próximos anos.
“Além de novas tecnologias de motor, que é a chave para a eficiência ambiental, também desenvolvemos soluções de novos materiais, processos de manufatura, design, gerenciamento de energia, aerodinâmica, controlabilidade de sistemas entre outros. Todos esses esforços somados levam a melhores patamares de sustentabilidade. Sem contar os processos de gestão ambiental interna, o reflorestamento de áreas circunvizinhas às nossas plantas e a reciclagem de resíduos”, diz Ramos.
“Estamos realmente focados agora na diminuição de emissões poluentes. Em 2009 a meta da Embraer é começar a compensar todas as emissões geradas e dar continuidade nos esforços para mitigar ao máximo as emissões decorrentes de nossos processos. Inclusive pretendemos oferecer aos nossos clientes de aviação executiva certificados de compensação de CO2, num programa a ser implementado pela empresa também no próximo ano”, conclui Almeida.
Links relacionados:
http://www.pegadaecologica.org.br
http://www.carbonfootprint.com
(Por Jaqueline B. Ramos*, OEco, 22/09/2008)
*Jaqueline B. Ramos é repórter em São José dos Campos (SP) e escreve o blog Ambiente-se.