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amianto
2008-09-23
"O cenário para o mercado de polipropileno é otimista e tende a ser cada vez mais interessante quando a oportunidade de substituição do amianto começa a ser vislumbrada no Brasil." A frase, na Gazeta Mercantil em 17/9 (pág. A3) em artigo do presidente da Abifibro, revela o verdadeiro objetivo por trás da disputa patrocinada pela indústria multinacional de fibras sintéticas, que busca confundir a opinião pública e as autoridades brasileiras sobre o amianto crisotila, usado no País na fabricação de telhas e caixas d’água.

Com esse jogo pesado, a multinacional quer tomar um mercado de R$ 2,5 bilhões anuais no qual atuam empresas genuinamente brasileiras, na maioria de pequeno porte.

As doenças relacionadas ao amianto já foram extintas no Brasil, assim como o sarampo e outras endemias. Entre os trabalhadores admitidos desde 1980 não se registrou nenhum caso de doença resultante do uso de crisotila no País, o que demonstra ao mundo que o uso correto e seguro desta fibra natural é perfeitamente viável.

Os poucos casos de doença ainda existentes estão relacionados ao uso incorreto do mineral, décadas atrás, numa época em que o Brasil importava o amianto do tipo anfibólio - que por ser 500 vezes mais perigoso do que o crisotila acabou sendo proibido em vários países.

Em sua campanha pela proibição do crisotila a multinacional das fibras sintéticas omite que, de maneira geral, não há fibras substitutas seguras. Em 2005 a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (Iarc), braço direito da Organização Mundial da Saúde (OMS) - concluiu numa reunião em Lyon (França), após vários anos de estudos científicos, que todas as fibras que poderiam vir a substituir o amianto, entre elas fibras sintéticas de polipropileno (PP) e de poliálcool vinílico (PVA), são respiráveis e altamente biopersistentes, sendo sua periculosidade indefinida por falta de estudos científicos mais acurados.

Quanto às telhas produzidas com fibras sintéticas de PP e PVA, sua fabricação exige a aplicação de polímeros aditivos e de grande quantidade de celulose pura - cujas fibras são biopersistentes, podendo, portanto, ocasionar mal à saúde.

Diferentemente das telhas de fibrocimento com amianto crisotila, cujas fibras são naturais, as telhas com fibras sintéticas trazem em seu bojo grande quantidade de componentes químicos, com um impacto no meio ambiente 35% superior ao gerado pelo crisotila.

Segundo o Instituto de Tecnologia de Portugal, o consumo de eletricidade é 13 vezes maior na produção de fibrocimento com fibras sintéticas do que quando se usa crisotila. Além disso, cerca de 15 mil toneladas de celulose, sob a forma de jornais velhos, deixarão de ser reciclados ao ano pelas indústrias de fibrocimento, caso o Brasil decida permitir só a produção das telhas com fibras sintéticas - o que exigirá altos gastos com a importação de celulose pura.

As fibras sintéticas, derivadas do petróleo, têm custo muito superior ao do amianto. O setor de fibrocimento com fibras sintéticas tenta acabar com o de amianto crisotila porque não consegue competir.

O Brasil ainda não realizou qualquer tipo de estudo científico para a liberação, pelo Ministério da Saúde, das fibras de PP e PVA. É bom que se ressalte: em estudo promovido posteriormente à liberação e por renomados pesquisadores internacionais, as fibras de PP e PVA foram classificadas pela Iarc como "materiais de risco indefinido, sendo necessário fazer estudos científicos para avaliar-se adequadamente o risco".

Logo, a conclusão da Anvisa sobre o tema carece de fundamento científico.

Em contrapartida, diversos estudos científicos mostram que o amianto crisotila, usado hoje em mais de 130 países, desde que extraído e manuseado de forma controlada, como ocorre no Brasil desde a década de 1980, não oferece risco à saúde, seja no processo de produção, seja pelo uso das telhas e caixas d’água produzidas com essa fibra natural.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de crisotila. E por cobiça de uma multinacional, este setor da economia está sendo atacado de forma desleal. Essa ação danosa para aniquilar o setor de crisotila exige urgente e rigorosa apuração das autoridades brasileiras.

(Por RUBENS RELA FILHO, Gazeta Mercantil, 23/09/2008)

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