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crise do lixo italia gestão de resíduos
2008-09-23

Dois países próximos, porém com realidades inteiramente distintas quando se trata de lixo. A região de Campânia, na Itália, nos últimos 14 anos esteve sob estado de emergência vivendo com o crescente problema da falta de gestão dos resíduos. Já a Alemanha, desde a sua reunificação, tem anunciado e implementado uma série de medidas e leis com o intuito de estabelecer o tratamento adequado dos resíduos gerados no país.

O estado de emergência do lixo na Campânia começou oficialmente em 1994. O Governo Central confiou ao prefeito de Nápoles, Guido Improta, poderes extraordinários para controlar a grave situação da gestão de resíduos que já persistia há décadas. Mas a solução do problema foi sempre postergada e a comissão formada naquele mesmo ano, designada especialmente para resolver a crise, ainda é acusada de corrupção. No final de 2007, a falta da construção de novas unidades de destinação do lixo em Nápoles levou à interrupção da coleta do lixo, fazendo com que montanhas de resíduos se acumulassem nas ruas. Para piorar ainda mais a situação, a população, em sinal de protesto, ateava fogo no lixo despejado nas ruas.

Em maio de 2008, a Comissão Européia abriu um processo contra a Itália pelo seu descaso e pela má gestão dos seus resíduos.

A grande confusão envolvia a falta de incineradores e de novos aterros. Oito depósitos estavam sob gestão da Casalesi, o clã mais poderoso da máfia Camorra, que também negociava o despejo ilegal de resíduos tóxicos provenientes de várias regiões da Itália.

Apesar do anúncio da fim da crise do lixo, em julho desse ano, pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que ordenou a remoção de toneladas de entulhos acumuladas diante de escolas e apreendendo a máfia que controlava os aterros em Nápoles e fazia tráfico ilegal dos resíduos, ainda deve demorar três anos para o problema ser totalmente resolvido, como ressaltou o próprio Berlusconi. O plano de gestão inclui a construção de incineradores e a inauguração da primeira planta, prevista para janeiro do ano que vem.

Alemanha entra em campo
Parte do lixo já estava sendo exportada para Alemanha, que a utiliza para a geração de energia, ao alto custo de 250 Euros por tonelada. No total, aquele país prevê a importação de 160 mil toneladas de lixo doméstico da região de Campânia, para serem queimadas nos seus incineradores.

Os altos preços pagos pela energia gerada na Alemanha viabilizam financeiramente as usinas de incineração de lixo. Isso porque, como apresentado na coluna anterior, a matriz de energia elétrica alemã é composta basicamente de usinas termelétricas de fontes não-renováveis: carvão mineral (50%); urânio enriquecido (26%); e gás natural (11%). Da geração anual de 650 TWh, 1% da eletricidade vem da queima de resíduos.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente alemão, a capacidade instalada das plantas de incineração (18 milhões de toneladas por ano) é maior do que o lixo disponível para combustão (14 milhões t/ano). A previsão é de instalação de mais cem unidades em todo o país. O ministério informa, ainda, que no ano passado foram importadas seis milhões de toneladas de lixo, principalmente de países vizinhos.

O lixo é matéria-prima disputadíssima no mercado alemão de reciclagem. Peguemos como exemplo os resíduos plásticos. Em 2005, 72% deles foram reciclados, 10% foram depositados nos aterros sanitários e 8% estocados. Do total encaminhado para reciclagem, 37% foram queimados em incineradores para gerar energia (reciclagem energética), outros 37% foram derretidos e transformados em novos produtos (reciclagem mecânica) e 8% transformados em gases, produtos químicos ou resinas virgens que servem de matéria-prima para refinarias e petroquímicas (reciclagem química). A previsão para os próximos anos é que 100% do lixo sejam encaminhados para reciclagem e que permaneça apenas o mínimo possível de aterros sanitários na Alemanha.

Claro que a forte economia, os elevados custos de geração de energia e outros fatores contribuíram para o país se tornar um exemplo mundial na gestão dos resíduos. Mas vale ressaltar o trabalho intenso de revisão das normas e a fiscalização rigorosa do cumprimento da legislação ao longo dos últimos anos para que lixo agora seja tratado como commodity pelo país.

(Por Ana Cláudia Nioac, OEco, 22/09/2008)


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