O trabalho gerou diretrizes para o Zoneamento Ambiental para a Silvicultura (ZAS), e não apresenta restrições hídricas para o licenciamento da atividade nas Unidades de Paisagem Natural (UPN). “Em todo caso sugerimos que sejam solicitados estudos complementares ao empreendedor”, disse Agra.
Para retratar os possíveis efeitos de uma eventual monocultura eucalíptica no Estado, ele demonstrou que o resultado de simulações indicaram um aumento entre 24% e 76% do uso da água pela atividade silvícola. De acordo com o especialista a bacia de maior comprimento é a de Quaraí e a de menor vazão, do Turvo.
Para a geógrafa e técnica da Fepam, Lilian Ferraro, em situações críticas o órgão ambiental já exige do empreendedor que no EIA-Rima sejam feitos estudos locais. Quando se utiliza 40% da água disponível já é um alerta em razão de períodos de estiagem. “Nesses caso a decisão (de autorizar ou não) fica a cargo dos Comitês de Bacia”, explicou. Outra situação decidida pelos comitês é quando se existe conflito no uso da água.
O pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Carlos André Bulhões, garantiu que, se estudarmos mais, vamos descobrir que todas as árvores, especialmente o eucalipto, têm a capacidade de causar impacto em áreas onde o lençol freático está estocando água no solo. Água esta que vai “alimentar” os arroios e rios.
No Pampa, segue o professor, esses corpos d´água são os primeiros a secar em períodos de seca. “O eucalipto plantado nesses locais retira essa água com maior intensidade do que as gramíneas nativas. O eucalipto deve ser plantado em locais onde não há esse déficit de água”, ponderou.
Bulhões entende que o ZAS deveria detalhar as regiões onde se pode plantar como forma de avaliar o alcance das raízes do eucalipto na retirada de água do lençol freático.
Antônio Eduardo Lanna, doutor (PhD) em planejamento e gestão de recursos hídricos, defendeu a necessidade de mais responsabilidade nos estudos. Conforme ele, a bacia hidrográfica de Santa Maria, por exemplo, é apontada como a de maior vazão, mas sabe-se que não é homogênea. “É preciso especificar os estudos por regiões”.
Dúvida foi positiva para ambientalistas
A Fronteira Oeste, uma das áreas cobiçadas pelas empresas de celulose é justamente uma das que têm pior condição hídrica. Para o biólogo e Doutor em Ecologia, Paulo Brack, ficou claro que a região não tem condições de receber os plantios de eucalipto e que essa discussão deveria ter sido travada, há no mínimo dois anos. “Entendemos que o ideal seja a paralisação das licenças ambientais para a Silvicultura”, afirmou o membro da ONG Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Inga).
Baseado no depoimento dos técnicos, o biólogo Ludwig Buckup, da Associação Gaúcha de Proteção Ambiental (Agapan), propôs que o Plenário do Consema reconheça que existem concretas vulnerabilidades no Rio Grande do Sul no que diz respeito ao seu balanço hídrico. “Se existem essas dúvidas quanto a água consumida pelo plantio, então devemos levar em conta o que foi dito e considerar a questão da água novamente”, justificou. O veterano ambientalista ainda se disse “ convencido que o Estado tem sim em vários lugares, vulnerabilidade no uso de suas águas.
Brack reiterou que as ONGs ambientalistas ainda aguardam retorno dos pedidos que fizeram à Fepam há alguns meses. Eles querem saber quantos hectares já foram licenciados desde o ano passado e o que foi feito dos recursos oriundos das compensações ambientais. O biólogo estima que o montante chegue a R$ 100 milhões. “Conforme a Lei , esse dinheiro deveria ser destinado a criação de Unidades de Conservação”, lamentou. Brack lembrou que não há uma UC sequer no núcleo do bioma Pampa.
Outra sugestão partiu dos Amigos da Floresta, que apesar do nome, não são bem vistos pelos ambientalistas do Consema. Mesmo assim, seu representante, Leonel de Freitas sugeriu a vinda de técnicos em hidrologia florestal para explicar melhor a questão do consumo de água pelo eucalipto.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 23/09/2008)