O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou esta semana a intenção do governo brasileiro de construir 50 usinas nucleares nos próximos 50 anos. Segundo o ministro, os novos reatores seriam um pouco menores do que Angra 3, que deve fornecer 1.350 MW de energia e cujo licenciamento prévio foi anunciado no final de julho pelo Ibama.
"O ministro teve um delírio nuclear e esqueceu de avisar aos demais setores da sociedade brasileira", afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace, lembrando que tanto a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) quanto o mercado foram pegos de surpresa com a notícia.
A EPE, empresa estatal, já declarou que as dezenas de usinas anunciadas pelo ministro não estão sendo estudadas nem planejadas. O mercado foi mais duro com a proposta de Lobão. O anúncio foi qualificado com adjetivos como "inviável" e "estapafúrdio", segundo relatou a imprensa.
"O governo não conseguiu sequer tirar Angra 3 do papel e está falando em construir mais 50 usinas. Isso sem contar que o próprio ministro assumiu que não há solução definitiva para o problema do lixo nuclear. Parece até piada de mau gosto", diz Rebeca.
A declaração sobre as 50 novas usinas nucleares aconteceu na mesma semana em que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou um relatório apontando que o Brasil e outros países da América Latina e do Caribe poderiam reduzir em 10% seu consumo de energia até 2018 se adotassem medidas de eficiência energética, como sistemas de iluminação ou equipamentos energeticamente eficientes.
Para o Brasil, o cenário proposto pelo relatório do BID aponta uma redução de consumo de energia de 57,8 GWh por ano com medidas de eficiência energética, o que equivale aproximadamente à energia gerada por seis usinas iguais a Angra 3. Também segundo o relatório, o investimento necessário para alcançar essa redução no consumo de energia no Brasil seria de US$ 6,7 bilhões (R$ 11,5 bilhões). Para gerar a mesma quantidade de energia a partir de usinas nucleares, o custo seria no mínimo quatro vezes maior.
"Fica cada vez mais claro que o governo brasileiro está realmente no caminho errado no que se refere a garantir energia limpa e segura para o país", atesta Rebeca. "O interesse por trás do programa nuclear brasileiro não é a segurança energética do país. Se fosse, o governo deveria investir em eficiência energética e outras fontes renováveis, e não em energia nuclear."
O Greenpeace vem alertando para o potencial de redução de consumo de energia por meio de medidas de eficiência energética desde fevereiro de 2007, quando lançou o relatório [R]Evolução Energética. Na publicação, o potencial de redução calculado para 2050 é de 413 mil GWh por ano.
(Greenpeace, 19/09/2008)