O algodão transgênico em plantações na China já havia diminuído a quantidade de inseticidas na agricultura, mas agora uma equipe de pesquisadores mostrou um benefício inesperado da tecnologia: as plantas modificadas geneticamente ajudaram a diminuir as pragas que afetam culturas vizinhas. O algodão estudado foi modificado para produzir o inseticida Bt (derivado da bactéria Bacillus thuringiensis).
O grupo de Kong-Ming Wu, da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, estudou dados agrícolas de 1997 a 2007 sobre a cultura do algodão Bt no norte da China, além de checar as populações das pragas, especialmente a lagarta da espécie Helicoverpa armigera. O Bt não faz mal a humanos, mas é letal para lagartas de borboletas e mariposas, que atacam plantas como o algodão.
A equipe de cientistas estudou várias culturas plantadas em seis Províncias chinesas, cobrindo 38 milhões de hectares. Desse total, três milhões de hectares eram de algodão Bt.
As lagartas de Helicoverpa armigera costumam atacar o trigo na sua primeira geração, e migram para algodão, milho, soja, amendoim e legumes em gerações subseqüentes. Em artigo publicado na edição de sexta-feira (19) do periódico "Science", os cientistas afirmam que a "densidade populacional da H. armigera foi "drasticamente" reduzida com a introdução do algodão Bt.
E as plantações vizinhas de outras culturas também se beneficiaram com a diminuição das pragas. Segundo os autores, isso resultaria do fato de o algodão ser o principal hospedeiro dos ovos desses insetos. Os cientistas dizem, porém, que é preciso ter cuidado com a possibilidade de os insetos adquirirem resistência ao Bt.
"O controle da resistência de inseto é uma das questões-chave ligadas à pesquisa e desenvolvimento, regulação e aplicação de culturas Bt para controle de insetos no mundo. Entretanto, nenhum caso de resistência em campo foi relatado", disse Zhao à Folha. Em laboratório, têm sido criadas linhagens de insetos resistentes ao inseticida. "É uma questão complicada, com muitos artigos sendo publicados a cada ano", afirma Zhao; por isso, ele cita as conclusões de um novo livro sobre o tema.
"Uma estratégia promissora de controle da resistência envolve o uso de plantas com uma alta dose da toxina em combinação com a manutenção de culturas "refúgios" que encorajam a proliferação de insetos suscetíveis ao Bt na população da praga", escreveram os autores no artigo na "Science". Nos EUA, isso virou norma - cada fazenda de algodão tem de reservar uma parte da terra para algodão não-transgênico.
No caso chinês essa solução seria mais difícil, pela necessidade de instruir milhões de camponeses. Mas a prática chinesa de plantar diversas culturas - como soja, amendoim e milho - próximas ao algodão cria, na prática, os refúgios nos quais as pragas podem viver sem a pressão de terem de adquirir resistência ou morrer.
(Por José Bonalume Neto, Folha Online, AmbienteBrasil, 20/09/2008)