Depois de 18 meses de trabalho, cientistas australianos acabaram de catalogar e descrever cem novas espécies de tubarões e raias das águas australianas, com base no seu ADN, foi hoje revelado. Mais de 90 das novas espécies foram identificadas em 1994, no livro “Sharks and Rays of Australia” mas até agora continuavam por descrever cientificamente. Até há pouco tempo, muitas destas espécies eram confundidas com espécies marinhas semelhantes.

Com base na análise das sequências do ADN dos animais, o projecto, sob os auspícios da CSIRO (Commonwealth Scientific & Industrial Research Organisation), conseguiu clarificar a identidade destas espécies, que correspondem a um terço das espécies de tubarões e raias da Austrália e a cerca de um décimo das espécies do planeta.

“Esta informação taxonómica adicional é crucial para gerir a forma como lidamos com os tubarões e as raias, que se reproduzem lentamente e são extremamente vulneráveis à sobre-pesca e aos impactos humanos”, explicou Peter Last, coordenador do projecto.

Os novos nomes e descrições vão fazer parte de uma nova edição do livro “Sharks and Rays of Australia”, a publicar em 2009. Este trabalho faz parte de uma iniciativa taxonómica internacional (Shark-Bol), ramo do projecto Fish Barcode of Life.

Os cientistas da CSIRO sublinham que estes predadores são vitais para o ecossistema marinho e podem ser indicadores das alterações climáticas. “As suas populações são muito sensíveis a acontecimentos de pequena-escala e podem ser um indicador das mudanças no Ambiente”, comentou Peter Last.

A organização WWF australiana saudou esta catalogação. “Agora precisamos saber que alterações à conservação serão necessárias para proteger estes animais”, comentou Peter Trott, da organização.

Trott disse que a confusão entre espécies diferentes de tubarões e raias significa que espécies novas, raras ou ameaçadas podem ser confundidas com outras mais comuns e, por isso, capturada inadvertidamente por pescadores.

“Estamos, literalmente, a pescar no escuro no caso dos tubarões e das raias. Em muitos casos, simplesmente não sabemos que espécies estamos a retirar das águas australianas”, acrescentou Trott.

No Dia Mundial da Biodiversidade, a 22 de Maio, a UICN (União Mundial para a Conservação) divulgou o primeiro estudo que traça a situação global de 21 espécies de tubarões e raias pelágicas (que vivem no mar alto), colocando onze espécies na sua Lista Vermelha, entre elas o Tubarão-raposo (Alopias vulpinus), o Tubarão luzidio (Carcharhinus falciformis) e o Rinquim (Isurus oxyrinchus).

“A visão tradicional dos tubarões e raias oceânicos como rápidos e poderosos muitas vezes leva ao erro de pensar que eles são resilientes à sobre-exploração pesqueira”, disse, então, Sonja Fordham, da UICN.

A culpa, diz o estudo publicado na revista “Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems”, é das capturas acidentais mas sobretudo do excesso de pesca para a comercialização das barbatanas e de carne.

Apesar “das provas do declínio e das crescentes ameaças a estas espécies, não existem limites internacionais para as capturas dos tubarões oceânicos”, salientou. “É urgente tomar medidas globais para que estas pescas sejam sustentáveis”.

(Ecosfera, 19/09/2008)