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zoneamento cana
2008-09-19
Usineiros avaliam que nova classificação pode dificultar instalação de unidades, mas que não impedirá expansão das que já estão operando

A instalação de usinas de açúcar e álcool nos vales do Ribeira e do Paraíba e em algumas regiões do interior paulista foi vetada pelo zoneamento agroambiental, anunciado ontem pelo governo do Estado.

De acordo com o estudo, elaborado pelas secretarias de Estado do Meio Ambiente e da Agricultura e Abastecimento, a instalação desse tipo de indústria em alguns pontos foi vetada pela presença de unidades de conservação no entorno, bacias aéreas (indica qualidade do ar), topografia, condições hidrográficas e climáticas.

O Estado concluiu que, dos 24,8 milhões de hectares disponíveis para plantio, em 6,7 milhões não há condições adequadas para a cana. Em outros 3,9 milhões, as condições são adequadas. Também adequados, mas com limitações ambientais (têm reservas naturais ou áreas de proteção ambiental), são 8,6 milhões de hectares, enquanto em 5,5 milhões de hectares há adequação, mas com restrições ambientais (áreas críticas).

O trabalho mostra ainda que, segundo estimativas baseadas em pedidos de licença para novas unidades, até 2010 a área atingida pela cana, que hoje é de 4,8 milhões de hectares, poderá chegar a 6,2 milhões.

"O zoneamento concluiu que é inadequada a instalação de usinas no Vale do Ribeira e no Vale do Paraíba, chegando no sudoeste paulista, fundamentalmente por conta de topografia", afirmou o secretário da Agricultura, João Sampaio.

Expansão

Há áreas consideradas inadequadas ou com restrições ambientais até na macrorregião de Ribeirão Preto, principal pólo produtor do país. A Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) afirma que o zoneamento pode dificultar a implantação de novas usinas, mas a entidade mantém a expectativa de não haver empecilhos para a expansão das já existentes.

Por meio da sua assessoria de imprensa, o presidente da entidade, Marcos Jank, disse que os dados apresentados confirmam que o governo reconhece a sustentabilidade do cultivo.

"Mesmo nas áreas inadequadas, a pessoa pode ter cana, porque o zoneamento não proíbe o plantio. O que o zoneamento define é um modelo, um rumo, para a questão das indústrias", disse Sampaio.

O zoneamento definiu também a imposição de regras nas chamadas zonas de amortecimento, que são as áreas que, embora sejam adequadas, têm restrições ambientais.

O usineiro Maurilio Biagi Filho, integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, afirmou que o zoneamento é positivo por permitir o avanço da cultura em São Paulo, sem competir com a produção de alimentos.

"São 4 milhões de hectares absolutamente aptos e mais 14 milhões com alguma restrição. Como tem muito para crescer, o saldo é positivo", disse.

"Ninguém planta ou vai plantar cana-de-açúcar em local impróprio. Ninguém melhor que o agricultor para saber disso. A própria não-possibilidade de queimar cana a partir de 2014 em áreas mecanizáveis, por causa do protocolo agroambiental assinado entre o Estado e as usinas, já é quase um zoneamento do ponto de vista topográfico", afirmou.

Além do zoneamento divulgado ontem pelo Estado, órgãos de pesquisa de São Paulo concluíram um zoneamento oficial para o governo federal. "Entregamos o documento para a ministra Dilma [Casa Civil], que pediu retificações, que estão sendo concluídas", disse Hilton Silveira Pinto, diretor do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

(Por MARCELO TOLEDO, Folha de S.Paulo, 19/09/2008)

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