De dois em dois anos, aumentam as chances de você se ver em, ao menos, uma destas situações: ficar preso no trânsito congestionado por uma carreata, vasculhar as correspondências na caixa de correio entre dezenas de panfletos ou ser acordado por um carro de som com musiquinhas destinadas a grudar na memória.
São métodos de propaganda em ano eleitoral que, às vezes, podem se transformar em um tiro no pé do próprio candidato.
– A gente quase fica contra, né? – opina Paulo Pires, 60 anos, porteiro de um edifício comercial na Avenida Borges de Medeiros, próximo ao Largo Glênio Peres, no centro da Capital.
É naquela região geralmente o ponto de partida de carreatas eleitorais acompanhadas, claro, de barulho. Engana-se quem pensa que o carro de som incomoda só os que precisam dormir. Com dificuldades de conversar no saguão do prédio em dias de propaganda em alto volume, Pires diz que as reclamações dos comerciantes e de outros profissionais não são raras. A saída é abrir mão do ar fresco e fechar as janelas, abafando o som.
Junto do carnaval de jingles políticos, surgem os panfletos. Quando não são entregues em mãos, aparecem misturados às correspondências. Nesse mesmo prédio, o porteiro já foi orientado a proibir qualquer tentativa de colocar os santinhos nas caixas de correio.
Não muito distante dali, no Largo da Epatur – outro ponto ilustre do cenário político da Capital e do Estado –, Luísa Carvalho, moradora do local há 20 anos, jura não se incomodar com os carros de som e os jingles, lembrando ser pior quando havia showmícios, hoje proibidos. Mas confessa:
– Só não precisava (a agitação) começar tão de madrugada.
Pela lei, nem é tão cedo assim. Os caminhões de som têm permissão para circular a partir das 8h – o que ainda é hora de sono para muita gente, inclusive na casa de Luísa. A solução para dormir tem sido a mesma adotada pelos profissionais do Centro em horário comercial: trancar as janelas.
Até os candidatos sentem a rejeição à propaganda nas ruas. Aspirante a uma cadeira de vereador, Valter Nagelstein (PMDB) enfrenta diariamente a resistência dos eleitores:
– Estão muito agressivos, nem se dão ao trabalho de ler o que entregamos. Dizem ter horror a políticos. As pessoas estão generalizando.
Entre os marqueteiros, responsáveis pelas estratégias de propaganda dos candidatos, a resposta é unânime: trata-se de uma questão de bom senso. Começar a circular cedo com o caminhão de som não entra nesse bom senso, e muito menos distribuir panfletos indiscriminadamente. Mas apesar das recomendações, na prática a campanha é diferente.
(Por Priscila Montadon, Zero Hora, 19/09/2008)