Em sua quinta edição, a Esthetica, a feira de moda ética que acompanha a Semana de Moda de Londres, tenta ignorar o clima geral de pessimismo econômico causado pela crise nos mercados financeiros mundiais. Expositores manifestaram otimismo quanto às oportunidades de negócios e garantiram que há grande interesse de compradores e da imprensa no setor.
A Esthetica, que até agora só é realizada em Londres, deverá passar a ser organizada também em outras semanas de moda. Segundo o jornal "The Daily", que circula durante o evento londrino, o Conselho de Moda Britânico está em negociações com Nova York e Milão para levar a feira para as duas cidades.
Tendência
Em Londres, a nova edição do evento foi a maior até hoje, com 15 novos expositores, que elevaram o número de marcas presentes para 35. A moda considerada ética privilegia roupas feitas em condições dignas de trabalho, e com a utilização de tecidos e métodos de produção que respeitem o meio ambiente.
"A busca pela moda ética e ecologicamente correta está crescendo mesmo com a crise, à medida que os consumidores europeus decidem fazer escolhas mais informadas na hora de comprar", diz a agente Zuleika Carier, que representa marcas com preocupação ética.
Os fabricantes apostam na tendência, apontada pela mídia especializada, de que com a crise econômica os consumidores estão preferindo comprar peças mais caras e bem produzidas, que duram mais, ao invés de adquirir roupas baratas, produzidas em condições duvidosas, com vida curta e que, por isso, acabam não sendo um bom negócio nem para o bolso nem para a consciência.
Carier afirma que a moda ética vem atraindo cada vez mais público. "A moda ética definitivamente é mais popular hoje em dia, é a área da moda que cresce mesmo com a crise econômica mundial", afirma Carier.
Qualidade
Para a estilista Julia Smith, que apresentou suas peças na Esthetica, outra razão para o aumento do interesse em roupas éticas é a melhora da qualidade de tecidos e modelagens. Smith, por exemplo, produz suas peças com delicado algodão orgânico e outras fibras naturais, e usa forros estampados feitos por uma cooperativa de mulheres em Gana, chamada Global Mammas.
"As pessoas querem comprar um vestido legal, não necessariamente só porque é ético, mas porque é bonito", disse a estilista. "As marcas consideradas éticas estão começando a derrubar os estereótipos e a atender essa demanda", afirmou Smith. A empresa Amazon Life acompanhou esse pulo de qualidade nos materiais brasileiros que usa para produzir bolsas e acessórios, como borracha, lona de cânhamo, lona de caminhão e até uniformes reciclados do Exército brasileiro.
"Há alguns anos, os acessórios feitos de lona de caminhão reciclada, por exemplo, tinham uma consistência muito grosseira, que incomodava os consumidores", diz Lígia Feichas, da empresa brasileira Suriana, que representa a Amazon Life. Recentemente, no entanto, a tecnologia de tratamento deste tipo de material avançou muito, resultando em um produto mais delicado.
Brasileiros
As mudanças agradaram os consumidores europeus, e a empresa ampliou suas coleções para incluir novos materiais e produtos. Mas, se a Europa está cada vez mais receptiva para a moda ética, o mercado no Brasil ainda está engatinhando, segundo Feichas. "Os produtos feitos de forma ética e sustentável ainda são mais caros, e para o consumidor brasileiro muitas vezes o preço é crucial", diz Feichas, lembrando que o ponto de venda que a Amazon Life tinha no Rio de Janeiro era freqüentado principalmente por turistas.
Segundo expositores na Esthetica, o caminho para que as preocupações éticas deixem de ocupar um nicho do mercado e passem a dominar a produção de moda é investir ainda mais em qualidade, pressionar governos para que endureçam suas legislações de combate a produtos com substâncias que façam mal à saúde ou que agridam o meio ambiente e a continuidade da conscientização dos consumidores.
(BBC, Folha Online, 19/09/2008)