O governo do Haiti e a missão local da ONU estão sobrecarregados por causa de quatro tempestades recentes no miserável país, disse na quinta-feira o representante das Nações Unidas em Porto Príncipe. Hedi Annabi pediu a doadores internacionais que tomem medidas extraordinárias para ajudar o país mais pobre das Américas, que em apenas um mês enfrentou as tempestades tropicais Fay e Hanna e os furacões Gustav e Ike, com mais de 600 mortes.
"É uma situação gravíssima, e a escala do desastre está além da nossa capacidade e dos nossos meios", disse Annabi à Reuters durante visita a Hinche, no planalto central haitiano. A ONU solicitou neste mês 108 milhões de dólares em ajuda ao Haiti, onde grande parte dos 9 milhões de habitantes vive com menos de 2 dólares por dia.
O desastre ameaça os esforços de estabilização do país, onde uma missão da ONU está instalada desde 2004, quando uma rebelião derrubou o presidente Jean-Bertrand Aristide. Em abril, violentos protestos contra a carestia dos alimentos acabaram derrubando o gabinete. Annabi disse que a importante cidade de Gonaives, um porto na costa oeste, com 300 mil habitantes, ficou "praticamente toda destruída" por causa das inundações da tempestade Hanna.
"Não há uma só casa que não esteja destruída, danificada ou inundada por uma lama que às vezes alcança um ou dois metros de altura", disse. Em 2004, Gonaives já havia sido inundada pela tempestade Jeanne, que matou 3.000 pessoas.
O Programa Mundial de Alimentos já distribuiu comida para mais de 230 mil moradores da cidade. Em todo o Haiti, cerca de 800 mil pessoas precisam de ajuda urgente, segundo a ONU. "As pessoas perderam tudo na inundação, e o trabalho de limpeza e reconstrução será enorme e muito custoso", disse o enviado internacional.
Segundo ele, só no setor agrícola a avaliação preliminar é de um prejuízo superior a 200 milhões de dólares. Citando cálculos de especialistas, ele disse que o Haiti perdeu de 3 a 4 pontos percentuais do seu PIB devido às tempestades, o que pode gerar retração econômica no próximo ano fiscal.
(Reuters, Estadão, 19/09/2008)