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chuvas e inundações
2008-09-18

Há várias semanas, enchentes vêm devastando inúmeras regiões do mundo. Na Índia, o governo divulgou um balanço oficial segundo o qual as recentes inundações que devastaram o Estado de Bihar (leste) deixaram 150 mortos e milhões de pessoas sinistradas. Na África do Oeste, cerca de quarenta pessoas morreram, enquanto 130 mil teriam sido atingidas. No Haiti, as inundações e os deslizamentos de lama que resultaram da passagem das tempestades tropicais Fay, Hanna, Gustav e Ike provocaram a morte de várias centenas de pessoas, deixando cerca de um milhão de outras isoladas ou desabrigadas. A Grã-Bretanha e o Vietnã também foram vítimas dos desregramentos do clima, só que dentro de proporções menos importantes.

Além das perdas humanas, as conseqüências são múltiplas: destruição de habitações, de infra-estruturas, de colheitas, difusão de doenças relacionadas à água, tais como o cólera, deslocamentos em massa de populações. . . "Inúmeras pessoas andaram perdendo seus meios de subsistência. Elas foram forçadas a abandonarem o local onde viviam e a venderem todos os seus bens, ou ainda, a pedirem dinheiro emprestado, simplesmente para poder se alimentar", explica Colin Green, do Centro de pesquisas sobre as inundações, baseado na Universidade do Middlesex, na Grã-Bretanha.

"Em muitos casos, serão necessários muitos anos até que elas consigam recuperar as condições de vida que elas tinham, mas, muitas delas têm poucas chances de conseguirem", acrescenta Green. Tanto mais que as pessoas atingidas, que residem em áreas particularmente vulneráveis, onde os preços das moradias são mais acessíveis, são igualmente as mais pobres.

A cada ano que passa as ocorrências de enchentes vão se tornando mais e mais numerosas, e esta evolução deverá prosseguir. Em 1990, o Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia dos Desastres (cuja sigla em francês é CRED) havia recenseado cerca de sessenta ocorrências, contra mais de duzentas em 2007. No decorrer deste último ano, elas provocaram a morte de 8.500 pessoas, deixaram 177 milhões em situações críticas e provocaram perdas estimadas em 17 bilhões de euros (cerca de R$ 45 bilhões no câmbio atual).

Diversos fatores explicam esta tendência. Em primeiro lugar, a principal responsável é a mudança climática. "O ciclo da água é a parte mais sensível do sistema climático", explica Andras Szöllösi-Nagy, o diretor do programa hidrológico da Unesco. "Em função dos efeitos do aquecimento das temperaturas, ele poderia estar passando por um processo de aceleração".

As conseqüências deste fenômeno sobre a distribuição das precipitações vêm sendo objetos de discussões no âmbito da comunidade científica, mas os cientistas chegaram a um consenso para confirmarem a probabilidade de que o planeta corre sérios riscos de sofrer com maior freqüência chuvas intensas, e, portanto, mais enchentes. A alternativa de se falar em ciclos de enchentes calculados em décadas ou em períodos de cem anos deixou de fazer sentido, proclamam os hidrólogos.

Além disso, outros tipos de evoluções aumentam os riscos. O processo de cobertura dos solos com cimento ou concreto armado, relacionado à urbanização e aos desmatamentos, acentua o escorrimento das águas. As práticas agrícolas intensivas também podem provocar um processo de impermeabilização dos solos. "A capacidade do meio natural de absorver e armazenar a água diminuiu", resume Jakob Granit, do Instituto Internacional da Água de Estocolmo. Além disso, em conseqüência do crescimento demográfico, as áreas inundáveis estão cada vez mais povoadas, o que aumenta o impacto das catástrofes.

"A proteção contra as inundações precisa ser reforçada", afirma Andras Szöllösi-Nagy. De que maneira fazer frente a este fenômeno? "É preciso controlar melhor a utilização das terras, o que implica em planejar a expansão das cidades e a localização das indústrias em função dos riscos", responde Avinash Tyagi, o diretor do departamento do clima e da água na Organização Meteorológica Mundial (OMM). Além disso, tornou-se igualmente necessário adaptar melhor as infra-estruturas: as habitações e as estradas podem ser sobrelevadas, por exemplo.

A construção de reservatórios subterrâneos e de barragens é também uma medida aconselhada. "Houve um importante movimento de oposição às barragens", prossegue Avinash Tyagi. "Isso é lastimável. Elas constituem apenas uma parte da solução, mas não devem ser descartadas". O benefício que as barragens proporcionam é duplo: elas permitem controlar as enchentes e armazenar a água que estará em falta durante os períodos de seca. "A Europa explora seu potencial de armazenamento das águas à altura de 70% a 80%. Já, na África, este número não é superior a 5% ou 10%", constata Jakob Granit.

Além disso, o reflorestamento de solos nus, a vegetalização dos tetos, e a generalização da utilização de revestimentos permeáveis nas cidades permitiriam limitar o escorrimento. Por fim, a planificação dos procedimentos que precisam ser seguidos em caso de enchente é essencial. "As pessoas devem ser avisadas o mais rápido possível e precisam saber de antemão o que elas devem fazer", afirma Avinash Tyagi. "Cuba implantou uma série de procedimentos eficientes, diferentemente do que ocorreu no Haiti, o que explica as grandes diferenças entre as perdas que foram sofridas nesses dois países".

O principal obstáculo para a prevenção é a falta de dinheiro. "Tudo depende do nível de desenvolvimento", comenta Salif Diop, do Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUE). "Para poder se preparar, um país precisa de meios e de espaço".

Por fim, o interesse dos governos e das populações no assunto costuma ser incipiente ou até mesmo inexistente. "Existe uma carência de vontade política", confirma Avinash Tyagi. "Os governos têm prioridades mais imediatas para administrarem. Além disso, as populações vulneráveis, pobres e pouco educadas não possuem um peso político suficiente para fazerem com que suas demandas sejam ouvidas".

(UOL, Por Gaëlle Dupont, Le Monde, 18/09/2008)


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