Nos oito anos em que fui repórter em Rio Grande, quatro deles como correspondente de ZH, escrevi dezenas (talvez centenas) de matérias sobre propostas de desenvolvimento para a região.
Do Projeto Paranapanema (de extração de minério em Bujuru) à ligação a seco entre Rio Grande e São José do Norte, nada nunca saiu do papel. Com o tempo, fui ficando um pouco como São Tomé e deixando de acreditar que veria a Metade Sul virar o jogo.
Foi com a desconfiança habitual que, em março de 2004, comecei a fazer contatos com um estaleiro do Rio que pretendia construir em Rio Grande um dique seco. Na época, mesmo eu, uma rio-grandina daquelas que se orgulha de saber tudo sobre porto, não sabia bem o que era o tal dique seco.
Era um investimento estimado em US$ 20 milhões. Embora incrédula, fiquei impressionada com o vaivém de navios que a animação mostrava, ao som de um chamamé, na coletiva em que o Estado foi apresentado a um esboço do empreendimento.
Três anos e seis meses depois, tive que ver para crer: fiz as malas em Porto Alegre, fui para Rio Grande e passei o 20 de Setembro de 2007 sentada às margens do canal de acesso ao porto, acompanhando a entrada do casco da P-53.
Com ela vieram os operários com sotaques diferentes. Os restaurantes e os hotéis lotados. Os aluguéis na praia do Cassino inflacionados durante o veraneio. Os imóveis valorizados. Dois vôos diários de Porto Alegre. A escassez de lugares para estacionar no Centro.
Nos últimos 12 meses, a cidade cresceu junto com a montagem dos módulos da P-53. A plataforma se impõe, gigante, no final da Val Porto, para quem quiser ver, pelo menos até este 20 de Setembro.
A obra que fez os rio-grandinos voltarem a acreditar no mar como principal fonte de riqueza se despede neste final de semana. Ficou pronta. Vai entrar para a história como o início do pólo naval gaúcho. Rio Grande já está à espera da P-55 e da construção de cascos.
E eu ando até acreditando que a duplicação da BR-392 vai sair.
(Por Caroline Torma, Zero Hora, 17/09/2008)