Firmado o acordo que unirá a Votorantim Celulose e Papel (VCP) e a Aracruz Celulose em um único negócio, uma equipe formada por representantes dos grupos Votorantim e Safra, sócios na holding que vai administrar a nova empresa, começa agora a avaliar detalhadamente as operações visando a integração.
A expectativa é capturar sinergias equivalentes a R$ 4,5 bilhões, considerando, principalmente, economia de custos, maior poder de negociação junto a clientes e a estrutura operacional, disse ontem o presidente da Votorantim Industrial, José Roberto Ermírio de Moraes. Juntas, as duas companhias têm capacidade para produzir 4,5 milhões de toneladas de celulose por ano, com previsão de alcançar 7 milhões até 2010, e podem ir além, a 13 milhões.
Entretanto, a definição dos projetos de expansão se dará com os trabalhos desse grupo de transição e integração e depende do desempenho do mercado, que tem dado sinais de enfraquecimento na demanda neste segundo semestre. "Estamos no olho do furacão de uma crise das mais severas. É um momento difícil do mercado financeiro. Mas estamos confiantes de estar fazendo a lição de casa", afirmou Ermírio de Moraes, acrescentando que a crise não deve inibir o desenvolvimento de países como China, Índia e Brasil.
A China tem investido forte na produção de papel e impulsiona o mercado de celulose. Uma mudança nesse cenário, com taxas de crescimento mais modestas, pode estimular novas parceiras no processo de consolidação por que passa o setor, disse o empresário. Nesse caso, a fusão garante para a nova companhia musculatura para ser consolidadora nesse processo, no caso de celulose de fibra curta, negócio no qual somadas as empresas detêm 34% de participação do mercado global.
O empresário destacou também a boa margem das companhias, cuja receita consolidada em 12 meses até junho último foi de R$ 6,3 bilhões para um Ebitda (geração de caixa) de R$ 2,3 bilhões. As vantagens competitivas brasileiras - que permitem produtividade de 45 metros cúbicos por hectare/ano no plantio do eucalipto usado na produção de celulose enquanto que em outros mercados fica em 25 metros cúbicos, como é o caso da Indonésia - devem trazer ao País parcela maior da produção de celulose que abastece o mundo.
Hoje o negócio é ainda muito pulverizado. No total do mercado de celulose, considerando todas as fibras, a participação somada de Aracruz e VCP é de 10%, informou Ermírio de Moraes. Questionado sobre a possibilidade de uma união com a Suzano Papel e Celulose, o empresário disse que "tudo é questão de oportunidade de mercado" e lembrou que as duas empresas já são sócias na Ripasa. O empresário disse que a Aracruz foi um primeiro passo com possibilidades de novas aquisições e parcerias no futuro.
BNDESO empresário afirmou também que a expectativa é de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continue no negócio. "O BNDES já é sócio, parceiro de longo prazo, terá condições de capturar a geração de valor futura", disse o industrial, sem dar maiores detalhes da negociação em curso com o banco estatal que mantém ações nas companhias. Ermírio de Moraes afirmou que o banco participa como sócio, não como financiador, pois não será necessário no momento. Com a fusão, o negócio celulose e papel ganha mais peso no total da companhia, ficando com entre 20 e 25% da receita. Os metais detêm 40% e cimento outros 30%.
Ermírio de Moraes lembrou que antes de entrar em celulose e papel se aconselhou com Lorentzen, fundador da Aracruz, que o encorajou. No próximo dia 6 de outubro a VCP deve liquidar a compra da participação de 28% da família Lorentzen na Aracruz por US$ 2,7 bilhões.
Novos negócios Ermírio de Moraes disse que a crise tem trazido os valores dos ativos para patamares mais realistas e podem trazer oportunidades de novas aquisições. Em cimento, por exemplo, o grupo tem avaliado o mercado norte-americano e asiático, principalmente na Índia, onde estuda parcerias ou aquisições.
(Gazeta Mercantil. Adaptado por
Celulose Online, 18/09/2008)