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2008-09-17

Washington Novaes, convidado do 13º encontro do programa “O Brasil em Debate na Assembléia Legislativa”, apresentou sua palestra na noite de segunda-feira (15/09) para um auditório lotado. Com o tema “Sustentabilidade”, o jornalista discorreu sobre dois dos assuntos mais polêmicos na atualidade: as mudanças climáticas e a questão dos padrões de produção e consumo.

“Tudo que o ser humano faz tem impacto no meio físico. Seja sobre o solo, água, ar ou outros seres. É como uma família que gasta mais do que o seu orçamento. Nós estamos vivendo um novo tempo no mundo. Não se trata só de cuidar do meio ambiente, mas de não colocar em risco a vida humana.”

Mas, ao contrário do que parece, Novaes recusa o rótulo de jornalista ambiental por acreditar que “isto é segmentar o tema. Um dos ângulos mais dramáticos está em achar que o meio ambiente está isolado. Falar em jornalismo ambiental é uma forma de manter o assunto separado”. Com 52 anos de jornalismo, Washington defende que “é preciso saber como os assuntos se colocam sobre o ângulo dos impactos no mundo”. Para ele, qualquer que seja o foco – cultura, economia, política - o meio ambiente tem que ser pensado.

Mudanças climáticas

Segundo Novaes, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, está certo ao afirmar que as mudanças climáticas são a mais grave ameaça à sobrevivência da humanidade hoje. A conseqüência dessas alterações são os desastres naturais como furacões, ciclones, inundações, secas. Em 2005, só no Brasil, 110 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas em decorrência desses desastres.

O jornalista conta que estudos feitos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC (órgão composto por delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre a mudança climática) mostram que a temperatura na Terra subiu 0,8°C depois da Revolução Industrial devido a ações humanas. E vai subir mais 1,3°C até 2050. Para evitar que esse aumento ultrapasse os 2°C, é preciso reduzir a emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4).

Entretanto, Novaes afirma que táticas de combate à emissão não têm se mostrado eficientes. “A vigência do Protocolo de Kyoto (acordo internacional para reduzir as emissões de gases tóxicos entre outras medidas) termina em 2012. E muito pouco foi feito. Não temos nem instituições nem regras universais que façam cumprir essa decisão.” Ele completa que para que a convenção da ONU seja aprovada é preciso consenso entre todos os países. O que é impossível, já que cada um defende seus interesses.

Padrão de produção e consumo

“Estamos vivendo uma crise do padrão civilizatório com um modo de viver insustentável. Ou seja, os nossos modos de viver não são compatíveis com as possibilidades do nosso planeta”, desabafa Novaes. “Segundo o Relatório Planeta Vivo, da ONU, de 2006, estamos hoje consumindo 25% além da capacidade de reposição do planeta”, acrescenta.

A degradação é tanta que quase um terço das espécies vivas se extinguiu em meio século. Hoje um habitante de um país desenvolvido consome em média 11 vezes mais energia que um habitante de um país subdesenvolvido. “Se todas as pessoas do mundo consumissem como os americanos, europeus e japoneses, precisaríamos de mais dois planetas para dar conta”.

Além disso, o jornalista adverte que hoje temos mais água em barragens do que correndo nos rios, que as geleiras polares estão derretendo em ritmo recorde e que a temperatura dos oceanos está elevada, fortalecendo os furacões e ciclones. “A energia que se acumula nesses oceanos é uma brutalidade.”

Brasil

“O que falta no Brasil é uma estratégia”, ressalta o jornalista. “16 anos depois da “Eco 92”, realizada no Rio de Janeiro, o Brasil ainda não tem uma política de clima. É preciso mudar. Já temos um cenário traçado por estudos que dizem que já perdemos de 20% a 25% dos nossos recursos naturais”, aponta. Por tudo isso, acredita que o Brasil deveria aceitar compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Fatores e custos ambientais, conforme Novaes, devem estar no centro de todas as políticas brasileiras. Não à toa, “O Brasil já é o 4° maior emissor do planeta, tanto em metano quanto em dióxido de carbono.

De 2000 para cá, o Brasil já desmatou cerca de 150 mil km². A alteração do clima se deve principalmente à queima de combustíveis fósseis”, explica. “O cientista brasileiro Carlos Nobre acredita que não há como reverter o quadro. Talvez dê apenas para mitigar,” acrescenta.
Outro fator responsável pelo efeito estufa vem da agropecuária. “O metano emitido por um boi (através de gases e excrementos) é de 58 kg por ano. Temos 205 milhões de cabeças no Brasil. Isso polui mais que o setor industrial e de transportes juntos”, explica.

Entre as possíveis soluções, Novaes cita a redução na emissão de gases, a mudança na matriz energética, a mudança na educação, na comunicação, entre outras. Quando se pergunta ao jornalista se ele é otimista ou pessimista em relação ao assunto, ele responde: “Isso não tem a menor importância”.

(Por Evelise Nunes, AL-SC, 16/09/2008)


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