Organização de Bento Gonçalves ensina adolescentes da periferia a reutilizar óleo de cozinha para a produção de sabão
Um grupo de adolescentes de Bento Gonçalves, na Serra, desenvolveu uma idéia ecológica e que gera renda. Os jovens produzem sabão a partir de óleo de cozinha usado. A iniciativa ocorre em uma garagem do bairro Municipal.
Os jovens fazem parte do primeiro empreendimento montado pela ONG Cidadão Atitude. Produzem sabão para louças e roupas a partir de óleo de cozinha usado e recolhido na própria comunidade. E os moradores são também os consumidores das barrinhas, vendidas a R$ 0,50.
Entre os jovens que trabalham no local está o trio Pablo Willian Elias, 15 anos, Cleber da Cruz Borges, 16 anos, e Adilson Gonçalves, 17 anos, que aquecem o óleo, adicionam outros elementos como água e soda cáustica, colocam a massa para secar e, por fim, dão forma a mais de 400 barras por dia.
– O bom é que a gente está sempre entre amigos – diz Pablo.
Enquanto outros conhecidos estão por aí entre festas e confusões, eles cuidam com carinho do protótipo daquilo que pode vir a ser a fonte de renda de todo o grupo.
– Mente ocupada não pensa em coisa errada – diz o líder comunitário Marcos Antônio Moraes, que ensina o ofício e acompanha a produção.
Por enquanto, o comércio ainda dá pouco retorno financeiro aos participantes. Falta vencer alguns entraves burocráticos que impedem o empreendimento de emitir nota fiscal e, assim, de vender para estabelecimentos comerciais. No futuro, a idéia é produzir também sabão medicinal.
ONG também realiza cursos de informática e vendas
Hoje, são apenas cinco adolescentes trabalhando com sabão. Eles já foram 20, mas muitos saíram para virar empregados de empresas. Por isso, o momento atual é de renovação, em que adultos também poderão ser atendidos.
Mas o empreendimento não é a única ação da ONG. Segundo o diretor-executivo da Cidadão Atitude, João Carlos Pereira Junior, 40 famílias sem preparo para o mercado de trabalho chegam a Bento Gonçalves mensalmente. Muitas se instalam no bairro Municipal, onde são desenvolvidas também outras medidas de apoio sociofamiliar, essenciais no sucesso da iniciativa.
– A gente pretende usar essa comunidade como embrião do trabalho que queremos fazer em toda a comunidade – afirma.
Além disso, eles freqüentam um curso que dá noções de informática, empreendedorismo e vendas, buscando prepará-los também para o mercado formal de trabalho.
O presidente do conselho gestor da ONG, Gilmar Massuti, é quem busca interação das iniciativas com a sociedade.
Além do Instituto HSBC de Solidariedade, que paga o aluguel do espaço, e do Instituto Nestor de Paula, que financiou os equipamentos da microindústria, e de outros apoiadores como Fundação Pão dos Pobres e Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, é preciso envolver mais pessoas e empresas:
– A idéia é que a gente faça com que a sociedade entenda que é tudo orgânico. Se algo não está bem, todo mundo sofre com isso – diz Massuti.
(Zero Hora, 17/09/2008)