É o que diz o jornalista português João Pereira
Coutinho, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, no finalzinho de agosto. Taí um poder de síntese invejável e um insight brilhante, que dá muito que pensar. Tudo bem que Coutinho lança mão da nova máxima para tentar desqualificar o que ele chama de “moda do aquecimento global”. Nem vou entrar nesse mérito. Mas acho que a percepção de que a causa verde foi adotada pelos “órfãos do marxismo” é muito interessante.
Faz sentido dizer que todo o espírito de contestação do sistema capitalista, que durante a Guerra Fria encontrava reduto apenas na doutrina marxista, de certa forma migrou para a causa ambiental. Ser ambientalista inevitavelmente é ser crítico do sistema. Mas há uma diferença fundamental: enquanto capitalismo e comunismo se firmaram como dois opostos inconciliáveis, um perde e outro ganha, a questão ambiental vem se firmando bem no status quo. Foi totalmente capturada pela lógica de mercado (haja vista o mercado de carbono, de energia renováveis, e a propalada "responsabilidade socioambiental” das empresas).
A despeito da maquiagem verde, ou o que os gringos chama de greenwashing, grande parte das soluções sérias que vem sendo discutidas, sobretudo as soluções tecnológicas, são pensadas para o mundo capitalista como ele é.
Para quem gosta de “papo cabeça no último”, é bom saber que esse é um dos grandes e mais saborosos temas do ambientalismo contemporâneo. Afinal, para resolver a crise ambiental precisamos de um novo mundo, com lógicas de mercado e consumo totalmente renovadas, ou é o próprio mercado, com sua capacidade de inovação e incorporação de novos valores ao sabor da demanda, que vai apontar as soluções mais realistas?
Para subsidiar esse debate, é imperdível o
discurso de Adam Werbach durante a reunião do Commwealth Club, em 2004. O menino prodígio, que aos 23 anos se tornou presidente do Sierra Club, uma das organizações ambientalistas mais respeitadas do mundo, fez a autópsia do ambientalismo. A causa mortis? A incapacidade do movimento de apresentar um modelo atraente e positivo, sempre preso à contestação inútil do sistema, à abnegação, ao sacrifício do nosso modo de vida.
Do outro lado, Alex Steffen, editor-executivo do
WorldChanging, um dos sites mais populares da web, defende o Bright Green Environmentalism. Para ele, não é o ambientalismo que deve incorporar interesses e necessidades de empresas e governos, mas ao contrário, esses atores é que precisam entender o meio ambiente como um limite absoluto.
Alguém se arrisca a botar lenha nessa fogueira?
"Aqui o artigoebate quente, cabeça fria” de João Pereira Coutinho, na Folha.
A também imperdível reflexão de
Flavia Pardini, na Página 22: "A causa em busca de um movimento".
(Por Carolina Derivi*,
Blog Eco Balaio / Planeta Sustentável, 15/09/2008)
* "Carolina Derivi tem 25 anos e é repórter da revista Pagina 22. Durante seus "verdes anos", foi ativista pelo cerrado na Chapada dos Veadeiros (GO). Foi repórter do site Amazonia.org.br e é autora do livro-reportagem "De quem é esse rio?" sobre a polêmica acerca do complexo hidrelétrico do rio Madeira (RO)"