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contaminação do solo pessoas contaminadas contaminação metais pesados
2008-09-17

Reeducação alimentar. Eis a solução para a maioria dos problemas de saúde enfrentados pelas famílias ribeirinhas que vivem na região da Floresta Nacional (Flona) de Caxiuanã, localizada no município de Melgaço, arquipélago do Marajó, no Pará. A conclusão é da pesquisadora Marciléia do Carmo, que, em sua tese de doutorado, intitulada “Transferência Química na Cadeia Solo – Mandioca – Cabelo Humano na Região de Caxiuanã, Estado do Pará, e sua Importância Ambiental”, verificou que os hábitos alimentares dessas populações são pobres em nutrientes essenciais para o bem-estar humano, como cálcio, magnésio, fósforo e potássio.

O trabalho foi orientado por Marcondes Lima da Costa, do Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e contou com a co-orientação da pesquisadora Dirse Kern, da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE), do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

Marciléia conta que aliou a vontade de estudar Terra Preta Amazônica, solo altamente fértil, de origem ancestral, à curiosidade suscitada por pesquisas, realizadas pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), que apontam para a presença de um alto índice de mercúrio, metal tóxico, no organismo dos ribeirinhos que vivem em Caxiuanã. Ela resolveu, então, verificar se a contaminação por metais tóxicos constatada na Flona está relacionada à alimentação do homem que vive na região, composta basicamente pela farinha de mandioca.

Cadeia Solo – Mandioca – Cabelo Humano
Duas famílias de ribeirinhos, que vivem da agricultura de subsistência de mandioca, foram estudadas pela pesquisadora: a família que consome a mandioca cultivada em Terra Preta Amazônica e a família que se alimenta daquela cujo cultivo é realizado em solos normais, adjacentes à Terra Preta Amazônica, denominados de argissolos amarelos. Segundo Marciléia, o objetivo é comparar como a mandioca age em relação ao solo e como este se comporta mediante a plantação, finalizando a cadeia de análise com o cabelo humano.

“O foco do estudo é o solo, analisar como se dá a transferência química de elementos que compõem o terreno para as pessoas, processo que poderia ocorrer por meio do roçado-mandioca”, explica a pesquisadora.

Da análise da mandioca, ela concluiu que a polpa da raiz, de onde se extrai a farinha de mandioca, é a estrutura mais pobre em nutrientes fundamentais para a saúde humana, como cálcio, fósforo, magnésio, potássio, ferro e outros, assim como em elementos tóxicos, a exemplo do mercúrio e do chumbo.

“A mandioca é uma planta que esgota o solo”, afirma Marciléia, ressaltando que “essa planta retira do terreno somente os elementos essenciais para a sua função fisiológica”. Por isso, a pesquisadora afirma não ter encontrado diferença entre as mandiocas cultivadas em Terra Preta Amazônica e em solos adjacentes.

“Porém, a Terra Preta Amazônica permite um cultivo continuado, visto que é uma área bastante fértil, sem a necessidade da pausa para recuperação do terreno, procedimento que geralmente é observado na região devido à pobreza do solo amazônico”, destaca.

Com o baixo teor dos elementos tóxicos verificados na polpa da raiz da mandioca e, conseqüentemente, na farinha consumida pelos ribeirinhos, Marciléia concluiu que a contaminação por metais tóxicos nessas comunidades, atestada pelas pesquisas do Evandro Chagas, acontece por fatores externos, como o fumo, tinturas de cabelo e, talvez, utensílios de cozinha feitos de alumínio.

“Encontramos criança com alto teor de chumbo, metal tóxico, as quais convivem com adultos fumantes, ou seja, são fumantes passivos, o que pode resultar numa elevada carga daquele metal no organismo”, sugere a especialista. Uma alta de chumbo no corpo humano causa uma doença conhecida como saturnismo, cujos sintomas são retardo mental, diarréia e anemia, que pode comprometer gravemente os sistemas neurológico e hematológico e afetar irremediavelmente o desenvolvimento de crianças.

Alternativa natural - Para a pesquisadora, a adição de frutas e verduras ao cardápio diário dessas populações é de extrema importância, principalmente para as crianças. “Eles se alimentam basicamente de carne e peixe, tendo como acompanhamento a farinha de mandioca. Nos períodos de dificuldades financeiras, apenas de farinha”, informa. Por isso, a recém-doutora sugere o cultivo de hortas nos quintais das casas dessas populações.

(Agência Museu Goeldi, Diário do Pará, 16/09/2008)


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