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política ambiental austrália
2008-09-16

O assessor em matéria de mudança climática do governo da Austrália, Ross Garnaut, recomendou uma redução de emissões de gases causadores do efeito estufa considerada totalmente insuficiente por ambientalistas e cientistas. “Aceitar esse tipo de dano ao planeta é totalmente imoral”, afirmou Steve Campbell, chefe de campanha do Greenpeace Austrália-Pacífico, ao comentar as propostas contidas no último informe apresentado pelo economista Garnaut. “Objetivos e Trajetorias” é o título do documento complementar elaborado por Garnaut e divulgado este mês, no qual recomenda à Austrália fazer todo o possível para garantir um acordo internacional em matéria de redução de gases causadores do efeito estufa. Gases com dióxido de carbono, metano e óxido nitroso são responsáveis pelo aquecimento global, segundo os cientistas.

O informe complementar é o penúltimo elaborado pelo economista. O documento final deverá ser apresentado no final deste mês. Garnaut foi designado pelos governos federal, estadual e das subdivisões territoriais, em 2007, para analisar as conseqüências da mudança climática sobre a economia australiana e recomendar estratégias para manter a prosperidade. Argumentou que um acordo integral deve se basear em uma destinação global de direitos de emissões por habitante, o que, segundo ele, é o esquema mais justo. “Cotas por habitantes é a única forma de chegar a um acordo internacional que inclua as nações em desenvolvimento”, afirmou.

Países como China e Índia são os maiores emissores de dióxido de carbono em termos gerais, mas, relativamente menores se o cálculo for por habitante. Campbell disse à IPS que um acordo com base em direitos de emissão por habitantes “poderia ser uma boa idéia”, mas, tem reservas sobre a proposta de Garnaut. “Esta não é a arquitetura atual do esquema internacional e se trata de uma nova idéia que teria de se integrar ao processo de Kyoto. Pode demorar anos para que as 200 nações cheguem a um acordo”, ressaltou.

Um acordo global limitando as emissões de dióxido de carbono a uma concentração de 450 partes por milhão seria o mais conveniente para a Austrália, disse Garnaut, mas, é mais viável um limite de 550 partes por milhão (ppm)  “porque as emissões de dióxido de carbono agora estão em 455ppm e aumentam rapidamente pelo crescimento da economia mundial”. Esse deve ser o ponto de partida, afirmou, e o mundo deve visar o estabelecimento de uma concentração de 450 ppm, ou menos, enquanto isso for factível.

Se for fixada uma concentração de 550 ppm, a Austrália precisará reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 10% até 2020, em relação aos registros de 2000. Isso equivale a 30% por habitante, disse Garnaut. Para 2050, o país teria de reduzir suas emissões em 80% ou 90% se o cálculo for por habitante. O governo australiano fixou o objetivo de reduzir as emissões em 60% até 2050, em relação a 2000, e está à espera do informe final de Garnaut para anunciar seu compromisso de médio prazo.

“Não há sentido uma ação mundial que não se destine a evitar as conseqüências substanciais da mudança climática”, afirma em seu informe. Mas, como suas recomendações, foi muito questionado pelos que afirmam que o resultado será conseqüências devastadoras.  Campbell afirmou que seria um desastres os governos adotarem a recomendação de Garnaut de limitar as emissões a uma concentração de 550 ppm. “Todos os cientistas nos dizem que isso basta para empurrar o mundo para uma mudança climática catastrófica”, ressaltou.

A comunidade científica questionou as recomendações. Três especialistas australianos atacaram o objetivo de reduzir em 10% as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020. a redução deveria ficar entre 25% e 40% para esse ano. Bill Hare, os professores David Karoly e Amanda Lynch pertencem ao Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática, da Organização das Nações Unidas, prêmio Nobel da Paz. O administrador do programa de mudança climática da Fundação para a Conservação Australiana, Tony Mohr, concorda com eles.

Uma redução de 25% até 2020 “é realmente o mínimo, em nossa opinião, que a Austrália pode fazer para contribuir para evitar os perigos da mudança climática”, disse Mohr à IPS. Seguir a recomendação de Garnaut levaria a duplicar as mortes vinculadas às temperaturas na Austrália e a um grande aumento no que se conhece como “clima de incêndios florestais”, segundo a fundação. A Grande Barreira de Coral, o maior arrecife do mundo, localizado na costa nordeste do Estado de Queensland, desaparecerá, segundo a organização.

Com a concentração de 550 ppm, a Grande Barreira e outros arrecifes desaparecerão, segundo o informe de Garnaut. De 8% a 39% das espécies do mundo estarão risco de extinção. Uma concentração de 450 ppm seria menos prejudicial para a fauna e a flora, mas continuaria sendo perigosa. O economista prevê que os arrecifes serão prejudicados e entre 5% e 23% das espécies desaparecerão. Mas, também afirma que a Austrália deve reduzir suas emissões em 5% até 2020 diante da falta de um acordo internacional entre as nações desenvolvidas e, em especial, a China. Garnaut reconhece que suas conclusões não mostram o melhor cenário, mas, “são as mais factíveis no momento”, disse.

O diretor-geral do independente Instituto Climático, John Connor, também questionou as propostas do assessor do governo. “Aceitar a proposta de reduzir as emissões entre 5% e 10% até 2020 tirará credibilidade da Austrália nas conversações internacionais em matéria de mudança climática, e se os grandes contaminadores a adotarem ficaremos confinados a um mundo muito perigoso”, afirmou. O governo deve fixar o objetivo de reduzir em pelo menos 25% as emissões, de acordo com os números registrados em 1990, segundo Connor. Os objetivos de Garnaut “passam pelo alto sobre o fato de a Austrália poder exercer grande influência nas negociações internacionais”, disse Connor. Campbell também quer que o país assuma um papel de liderança. “A Austrália tem muito a perder se a mudança climática se agravar”, afirmou. Os australianos devem assumir objetivos mais ambiciosos do que os das recomendações do informe complementar, disse Campbell à IPS.

(Por Stephen de Tarczunski, Envolverde, IPS, 15/09/2008)


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