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gestão de resíduos política ambiental do méxico
2008-09-16

Se fossem cumpridas as promessas feitas pelo município da capital do México, contidas em leis e planos de 2003 e 2004, o tratamento das 12.300 toneladas de lixo diárias produzidas por esta cidade já seria amigável com o meio ambiente. Porém, há ameaça de colapso de um gigantesco foco de contaminação. O depósito de lixo Bordo Poniente emite dois milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano na atmosfera, o que representa 15% dos gases causadores do efeito estufa produzidos nesta cidade de nove milhões de habitantes, ficando apenas atrás dos automóveis, principal fonte de poluição do meio ambiente. Fechá-lo equivale a retirar de circulação cerca de 500 mil veículos.

Após pelo menos quatro adiamentos em cinco anos, em janeiro será fechado Bordo Poniente, aberto em 1985 no leste da capital, apesar de seu nome. No momento, ainda não há um depósito alternativo, embora as autoridades falem em algumas possibilidades. “A situação é complexa, o tempo acabou, mas as autoridades fazem esforços e confiamos que não haverá uma crise”, disse ao Terramérica o chefe do escritório de Gestão Ambiental da Universidade Autônoma Metropolitana, Alfonso de la Torre, especialista em manejo de lixo municipal.

Segundo De la Torre, “a população não tem idéia do que pode enfrentar caso não se tenha onde colocar o lixo”. Falta dinheiro ao município para realizar o fechamento dentro de normas ambientais, que exigem obras de engenharia e a possível construção de um receptor de gases para gerar eletricidade. Os custos serão de aproximadamente US$ 100 milhões. Quase todos os planos de manejo de lixo da cidade, incluindo a construção de quatro Centros de Integração e Reciclagem de Energia e a circulação de novos caminhões coletores, não saem do papel ou estão com atraso em relação aos prazos previstos.

O Programa Geral de Gestão Integral de Resíduos Sólidos de 2004, que previa estabelecer esses centros e fechar Bordo, projetava que, este ano, 75% dos habitantes da capital deveriam separar o lixo orgânico do inorgânico. Hoje, menos de 10% dos moradores o fazem. Estudos oficiais indicam que há outros 130 depósitos de lixo não autorizados em barrancas, áreas verdes e terrenos baldios desta cidade, e cerca de seis mil nos limites da capital. Nesses locais prolifera fauna nociva e os líquidos da decomposição da matéria orgânica (lixiviados) correm para cursos de água.

De la Torre admite que não há estudos sobre o impacto real destes lixões ilegais no meio ambiente, mas considera que ainda não chega a ser importante. Contudo, o presidente da Federação Mexicana de Engenharia Sanitária, Jorge Sánchez, acredita que “a capital chegou ao fundo do poço”. As “autoridades devem ver este momento do fechamento de Bordo Poniente como uma oportunidade para passar com pragmatismo para um novo esquema de manejo do lixo, pois o atual não dá mais”, disse Sánchez ao Terramérica. O governo, dono dos terrenos do Bordo, ordenou seu fechamento definitivo diante da evidência de sua saturação e da ameaça de que comece a contaminar lençóis freáticos e canais de água. O município pediu mais tempo, mas, finalmente, o aceitou.

A Bordo Poniente, de 375 hectares, chega a maior parte do lixo da cidade desde a década de 80. Das mais de 12 mil toneladas diárias de lixo – metade doméstica –, 90% são enterradas e o restante vendido e reciclado. Se tivessem sido cumpridos os planos traçados há mais de quatro anos pelo município da capital – comandado desde 1997 pelo esquerdista Partido da Revolução Democrática –, hoje o Distrito Federal estaria encaminhado para um manejo sustentável de seus dejetos. Os propósitos, agora reapresentados, eram reciclar 20% do lixo, empregar 45% em geração de energia, destinar outros 20% para produção de fertilizantes e confinar os 15% restantes.

Com o fechamento do Bordo, o município negocia com governos de Estados vizinhos a possibilidade de enviar-lhes lixo por um tempo determinado e promete colocar em funcionamento, no prazo de 20 meses, pelo menos um dos quatro Centros de Integração e Reciclagem de Energia. “Não há mais alternativa, a não ser dar um salto no manejo do lixo, por isso esperamos que cheguem os planos com dinheiro, cronogramas claros e programas dirigidos a envolver a sociedade, o que é fundamental”, disse o presidente da Federação Mexicana de Engenharia Sanitária.

A ministra do Meio Ambiente da capital mexicana, Martha Delgado, estimou que seria desejável adiar o fechamento de Bordo Poniente, pois “o novo modelo de manejo de lixo é uma questão que vai demorar vários anos”. Em setembro de 2007, a mesma funcionária reconhecia que, apesar da Lei de Resíduos Sólidos de 2003, até agora não regulamentada, e do plano de manejo de 2004, a capital foi “incapaz" de renovar a disposição do lixo. No final de agosto, as autoridades anunciaram que licitariam as obras do fechamento de Bordo Poniente e a construção dos Centros de Integração e Reciclagem de Energia, para compartilhar os custos com o setor privado.

Enquanto isso, a grande maioria dos moradores continua colocando seu lixo em sacos sem separação, que assim vão, quase todos, para Bordo Poniente, levados por cerca de 2.500 caminhões, metade deles com mais de dez anos de vida e vários operando desde 1965. São velhos, poluentes e não têm dispositivos nem espaço para classificar o lixo. A cidade conta com 250 modernos caminhões coletores, mas são necessários mais de dois mil desse tipo. As autoridades reconhecem que não têm dinheiro para comprá-los.

De la Torre atribui o não-cumprimento pelas autoridades “à resistência à mudança que a sociedade tem”, a problemas políticos e à falta de recursos. Para Sánchez, o problema exige uma mudança de cultura, “em curtíssimo prazo”, dos governantes e em seu afã de não importunar os eleitores. “Não há visão de longo prazo, mas isto não pode continuar, logo não haverá onde colocar o lixo”, afirmou.

(Por Diego Cevallos*, Terramérica, Envolverde, 16/08/2008)
* O autor é correspondente da IPS


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