Retirar o látex de árvores nativas da Amazônia e trans-formá-lo em borracha sem a necessidade de utilizar ener-gia elétrica é a tecnologia que um grupo de pesqui-sadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) levou para comunidades indígenas e seringueiros da região, com o Projeto Encauchados de Vegetais da Amazônia.
Apoiados pelo CNPq, os pesquisadores e grupos das comunidades uniram técnicas industriais adaptadas às condições disponíveis para a população à uma antiga tradição indígena. "Há 26 anos trabalhando e estudando a história dos seringueiros, descobri que era preciso buscar pesquisa, desenvolvimento e principalmente inovação para superar e sair da mesmice na produção da borracha. Perguntava-me como que os seringueiros nativos poderiam competir com o desenvolvimento da indústria na região", disse o professor Francisco Samonek, coordenador do projeto.
O resultado foi o desenvolvimento da tecnologia social denominada de encauchados, que proporcionou a oportunidade a grupos indígenas e seringueiros de desenvolverem em escala uma variedade de produtos artesanais de borracha, como luminárias, porta-lápis, toalhas de mesa, jogos americanos, tapetes, entre outros.
"Existia uma antiga técnica indígena que fazia produtos de borracha. Com a colonização, os índios perderam esta técnica. Nosso trabalho foi recuperá-la e inserir tecnologias de uso industrial, melhoradas e adaptadas às condições existentes, porque os seringueiros não têm energia elétrica, nem máquinas, e para serem feitas em pequena escala", explica o coordenador.
Tecnologia social O projeto iniciou-se nas terras indígenas de Kaxinawá e Shanenawa, do município de Feijó, e na reserva extrativista do Cazumbá Iracema, no município de Sena Madureira, no Acre, em 2005, envolvendo apro-ximadamente 11 aldeias indígenas e oito comu-nidades de seringueiros. Hoje a tecnologia está em expansão. São mais de 450 pessoas, entre pesquisa-dores, técnicos, índios e seringueiros, divididos por toda a Amazônia, Rondônia, Acre, Amazonas e Pará.
São montadas unidades produtivas, coletivas ou familiares, implantadas nas terras indígenas e nas unidades de conservação de uso sustentável, em execução nos estados. Cada unidade coletiva possui em torno de 30 pessoas e as unidades familiares, cinco pessoas.
PrêmiosComo forma de reconhecimento do valor do trabalho realizado pelos pesquisadores, o projeto foi uma das 25 iniciativas selecionadas como ganhadoras do Prêmio Equatorial 2008, escolhido pela Equator Initiative's Technical Advisory Committee. A premiação será entregue no dia 6 de outubro de 2008, durante a Equator Prize Award Ceremony, em Barcelona, na Espanha. O prêmio é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Em 2007, o projeto foi ainda agraciado com o Prêmio Tecnologia Social, da Fundação Banco do Brasil, e com o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica. O Banco da Amazônia, por meio do Prêmio Professor Samuel Benchimol, conquistado em 2006 pelo projeto, financiou a assistência técnica das unidades implantadas nas comunidades indígenas de Feijó.
(CNPQ,
Carbono Brasil, 15/09/2008)