Em dias de neblina intensa ou umidade do ar muito elevada, certas árvores usam um mecanismo diferente para extrair do ambiente a água de que necessitam para se manter vivas, crescer e se reproduzir. Em vez de absorver apenas pelas raízes a água disponível no solo, também retiram vapor d’água da atmosfera por meio de suas folhas.
“Esse recurso pode permitir às plantas sobreviver a períodos em que a água disponível é pouca”, explica o biólogo Rafael Silva Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Recentemente ele identificou essa capacidade de sorver água pelas folhas em árvores da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica que florescem a mais de mil metros acima do nível do mar no litoral de São Paulo.
Até então desconhecido entre espécies da flora brasileira, esse fenômeno não é novo. Em 2004 o biólogo Todd Dawson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos, havia descrito essa estratégia de hidratação em uma das árvores mais altas do mundo: a sequóia (Sequoia sempervirens), que alcança até 115 metros de altura e vive mais de 2 mil anos.
Embora ainda não se saiba ao certo como ocorre a absorção pelas folhas – que não são impermeáveis como se imaginava –, Dawson demonstrou que elas captam até 30% da água que as sequóias consomem ao longo do ano.
Na Califórnia as florestas formadas por essas árvores possivelmente nem existiriam caso as folhas das sequóias não fossem capazes de extrair da neblina parte da água de que precisam. “Lá chove pouco, num nível parecido com o da Caatinga no Brasil”, afirma Oliveira, especialista em ecologia vegetal da Unicamp que há quase uma década trabalha em parceria com Dawson.
Folhas que funcionam como esponjas não são o único recurso que permitiram às plantas se adaptar ao longo de milhares de anos aos diferentes ambientes do planeta. Em estudos em paralelo desenvolvidos nos últimos anos, Oliveira e o biólogo Augusto Cesar Franco, da Universidade de Brasília (UnB), identificaram em árvores do Cerrado, da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica outras estratégias que lhes permitem lidar com a escassez ou a abundância de água. “O Cerrado, por exemplo, é um ecossistema com grande biodiversidade. Há de 60 a 70 espécies de árvore em uns poucos hectares”, diz Franco. “Cada espécie pode ter desenvolvido estratégias diferentes para captar água.”
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(Por Reinaldo José Lopes, Agência Fapesp, 15/09/2008)