As imponentes morrarias da Serra do Amolar, umas das regiões mais bonitas do Pantanal mato-grossense, estão tomadas por chamas. E o fogo arde com um potencial de destruição intimidador. Segundo as primeiras observações, em dois dias foram consumidos 2 mil hectares de vegetação típica de Cerrado e o vento forte empurra as labaredas na direção da sede da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, administrada pela Fundação Ecotrópica.
Além de uma beleza cênica inigualável, essas serras são consideradas os mais importantes refúgios da fauna pantaneira. Uma queimada ali, ainda mais na época de floração e de frutificação, pode representar perdas incalculáveis para a biodiversidade.
O incêndio começou há quatro dias e foi provocado por raios despejados sobre os cumes serranos, provocados por uma frente fria que passou por Corumbá (MS). O fogo desceu pelas encostas.
Na noite de domingo (14), os brigadistas de prontidão no Parque Nacional do Pantanal se assustaram ao enxergar a linha de fogo sem controle a cerca de 10 quilômetros. “A situação é séria e piorou nesta noite. Ventou muito forte e a gente achou até que ia chover, mas não caiu um pingo. O único efeito da ventania foi alastrar o fogo”, descreve Sergio Brant, analista do Instituto Chico Mendes (ICMBio) que passou os últimos dias no local e estimou que o fogo esteja queimando por uma frente de 15 quilômetros de extensão.
Embora não seja atribuição do Ibama combater fogo em reservas particulares, especialmente quando as unidades de conservação federais atravessam o período crítico de seca, no caso do Amolar eles sabem que precisam fazer tudo que for possível. “Nesta época, a maioria das plantas entra em frutificação e toda a fauna tem ciclo relacionado com esses alimentos. Se o fogo vencer, esse ciclo é abortado”, explica Rodrigo Falleiro, chefe do Prevfogo em Mato Grosso.
Apesar da gravidade, infelizmente não há muito o que fazer. “Estamos destacando mais 25 brigadistas de outras unidades de conservação para ajudar, com alguns técnicos experientes em áreas alagadas, mas para enfrentar um fogo desses só com combate aéreo”, diz Falleiro.
Por este motivo, deve chegar à região nesta terça-feira (16) um avião Dromeder, com capacidade de carregar 2.500 litros de água e realizar cerca de cinco pousos por hora. Quatro bombeiros de Corumbá também ajudam.
De acordo com o Prevfogo, neste fim de semana um helicóptero deixou brigadistas do Ibama na crista da serra, mas sem água para abastecer as bombas o combate perdeu em efetividade. Na tentativa de apagar as chamas em meio ao terreno pedregoso, as equipes tiveram abafadores quebrados e ali constataram o pior: que a tendência é que o fogo só termine quando lamber a morraria inteira. “A estratégia é minimizar os danos, tentando evitar que o fogo chegue a dois vales na parte baixa da serra, que ficam na face leste”, diz Brant.
A situação é quase uma tragédia anunciada. Falleiro garante que raio só provoca grandes queimadas quando existe acúmulo de combustível. E no Amolar há muito. O mato está seco e vem crescendo desde o último grande incêndio na região, em 2003. “Incêndio no Pantanal é sempre muito difícil, mas essa situação poderia ser evitada se houvesse manejo de fogo”, sugere.
Para evitar tanto combustível, ele recomenda que seria ideal estudar a região e fazer queimas controladas a cada três anos, entre janeiro e maio, o que não comprometeria a saúde da vegetação. “Isso vale para todo o Brasil. Antes investir nesse tipo de prevenção do que gastar milhares de reais tentando enfrentar fogo no alto da montanha com 10% de umidade relativa do ar e 40 graus de temperatura”, diz Falleiro.
Raio na Serra do Amolar nunca foi novidade para quem vive e cuida do local. “Em geral queima esparsamente e permite que a vegetação se recupere”, lembra Brant. A diferença é que, somada a essa condição de secura e falta de manejo, na visão do analista, as conseqüências podem ser permanentes. “Infelizmente a parte baixa do Amolar há anos sofre pressão de fogo provocado por pessoas, portanto ela já esta bastante pressionada com capacidade de recuperação reduzida”, observa o analista.
(Por Andreia Fanzeres*, OEco, 15/09/2008)
* Colaborou Manoel Francisco Brito