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biocombustível de celulose etanol
2008-09-15
"O eucalipto pode ser tão bom e eventualmente até melhor do que a cana-de-açúcar para a produção de biocombustíveis a partir da biomassa gerada na plantação dessas culturas." A afirmação de Carlos Alberto Labate, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), foi feita aos pesquisadores presentes na primeira edição do Simpósio sobre Etanol de Celulose, que terminou na última quarta-feira (10/9), na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"A indústria florestal brasileira, uma das melhores do mundo e que serve de referência para vários países, está interessada em entender como a biomassa do eucalipto pode ser usada para a produção de etanol. Trata-se de uma nova revolução da química verde", disse.

Atualmente, as cascas do eucalipto permanecem no solo das plantações após a extração do tronco da árvore, que normalmente é destinada à indústria de papel e celulose. "Uma quantidade razoável de casca é dispensada no solo com o corte da madeira, algo em torno de 20 toneladas por hectare. Ao ser fermentado ao longo dos anos, esse material libera gases do efeito estufa", explicou Labate.

"Sabendo que as indústrias do setor florestal estão preocupadas com as questões dos impactos ambientais, uma forma de despertar ainda mais o interesse é mostrar o valor econômico dos resíduos desperdiçados, que podem tanto ser usados para produzir bioetanol como biopolímeros. A casca do eucalipto é uma ótima fonte de carbono de baixo custo", completou.

Ele também comparou a quantidade de biomassa anual gerada pela cana-de-açúcar e pelo eucalipto no Estado de São Paulo. Enquanto a cana produz em torno de 10,6 toneladas de bagaço por hectare em um ano, o eucalipto chega a gerar de 23 a 25 toneladas de biomassa por hectare, no mesmo período, com alto potencial para serem transformadas em energia.

"Além disso, o eucalipto possui o dobro de hexoses, que são açúcares fermentáveis como sacarose, glicose, frutose e galactose, em relação ao bagaço da cana. Isso significa que, teoricamente, o potencial do eucalipto para a fermentação é maior do que o da cana. O problema é que ainda não temos o hidrolisado tanto da casca como do bagaço para fermentar e estudar. O potencial do eucalipto existe, mas ele precisa ser melhor pesquisado", apontou Labate.

Edital Finep
Pesquisas sobre geração de energia a partir de resíduos da cadeia de celulose desenvolvidas pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) não se enquadraram em qualquer dos 18 tópicos do edital de Subvenção Econômica à Inovação lançado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em maio deste ano.

Na época de lançamento do edital, o gerente técnico da ABTCP, Afonso Moura, apontou a restrição de um tópico do edital, na área de Energia, que previa o desenvolvimento de equipamentos e processos para a transformação do vinhoto e para a otimização do aproveitamento da palha da cana na cadeia do etanol. Se o tópico fosse menos restrito e não definisse o aproveitamento unicamente da palha de cana, o projeto que utiliza resíduos da cadeia de celulose para gerar etanol poderia ter se enquadrado no edital de subvenção.

"Para produzir a celulose, cozinha-se a madeira, o que gera um caldo, chamado de licor negro. Esse licor negro é rico em matéria orgânica, em produtos derivados de carbono, que é usado para produzir energia, etanol. O setor poderia contribuir com a produção de etanol a partir de subprodutos da madeira. Outra linha de pesquisa é utilizar resíduos da própria madeira, de galhos, cascas, e gerar etanol a partir deles", explicou Moura.

"Além do etanol, estamos pesquisando para outros produtos: fármacos, plásticos, a parte dos polímeros existente na cadeia da madeira. Outra linha de pesquisa é parte de biotecnologia, o uso de enzimas para produção de celulose, de papel. E também em biorefinarias. Nada disso foi contemplado no edital", lamentou, na ocasião.

Segundo Moura, o projeto de pesquisa e desenvolvimento chegou a ser apresentado ao secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Luiz Antonio Elias. "O projeto de geração de etanol a partir do licor negro tem um custo de R$ 3 milhões. Esse projeto seria coordenado pela ABTCP e envolveria os centros de pesquisa da Universidade de São Paulo e das federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. A idéia era fazer um consórcio de empresas e de universidades. A proposta feita ao MCT era que a ABCTP pudesse assumir esse financiamento do edital Subvenção Finep e coordenar a pesquisa. Nada do nosso pleito foi adotado. Ficamos muito decepcionados", protestou.

O diretor da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, também chamou a atenção, na época, para o caráter restritivo do edital: "Na contramão da Política de Desenvolvimento Produtivo do governo, que pretende expandir o apoio à inovação, o edital da Finep restringe os projetos em apenas 18 tópicos bastante pontuais, divididos em seis áreas. O novo edital, infelizmente, é ainda mais fechado que o anterior, definindo, em vez de prioridades, exclusividades, e transformando a subvenção à inovação em uma encomenda tecnológica, já que quem define quais produtos devem ser desenvolvidos é o governo, e não o setor produtivo".

(Administradores.com.br.
Adaptado por Celulose Online, 14/09/2008)

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