Construir com terra é saudável, ecológico, econômico e muito prazeroso. É como esculpir paredes com as próprias mãos, imprimindo no barro formas, desenhos, texturas, tudo o que a criatividade permitir. Algumas paredes da minha casa em construção na ecovila são de Cob, uma técnica antiga de construção com terra muito usada na úmida Inglaterra, mas também empregada nas áreas mais secas do México e dos EUA.
A mistura, a gente faz com os pés. Sobre uma lona grossa, acrescentamos terra, areia, palha de capim braquiária (do próprio lote, que era um antigo pasto), serragem e água. Depois, já descalços, pisamos sobre a massa, dançando, cantando, dando risada, sentindo uma troca gostosa de energia com a terra. Até que a massa fica mais homogênea, macia, no ponto de fazer pãezinhos. É hora, então, de usar as mãos. Com um punhado da massa, vamos moldando os pães e empilhando-os para dar forma à parede.
Aí é que entram os detalhes mais gostosos... Como a parede tem que ser espessa - pelo menos, uns 30 centímetros – é possível esculpir nichos para expor livros, artesanato, louça da cozinha ou até servir de armário para as roupas. Também dá para esculpir bancos, sofás, lareiras e aberturas para a luz natural em formatos inusitados, como gotas, flores e estrelas.
Não há limites para o que se pode fazer com o Cob. Versátil e ecológico, o material tem ainda outras inúmeras qualidades. Ao contrário das paredes de cimento, concreto ou gesso (urgh!), essas estruturas de terra são vivas porque permitem uma melhor troca do ar interno com o externo. E, como esse processo ocorre lentamente, paredes de Cob proporcionam excelente conforto térmico: mantêm a casa quentinha no inverno e fresquinha no verão. Sem falar que parede de barro filtra o ar que entra na casa, melhorando a qualidade interna do ambiente.
E mais, o Cob é mais resistente a abalos sísmicos e ao fogo, pode ser usada por populações mais carentes porque custa pouco (especialmente se os materiais estiverem disponíveis no próprio terreno), é bonito e ainda dispensa o uso de fôrmas de madeira, já que os pãezinhos são empilhados sem a necessidade de qualquer amparo artificial – o que poupa muitas árvores dês serem cortadas da mata para virar fôrma descartável para a construção (in)civil...
Liberdade e simplicidade são palavras-chave desse tipo de construção. E são também valores essenciais para a construção de um mundo em harmonia com as necessidades do planeta e de cada um de nós. ‘Bora experimentar? Dá pra começar construindo uma casinha para as crianças, um banco para o jardim, uma escultura para a entrada da casa... Chame os amigos e... pés e mãos na massa!
Para saber mais:Green home buildingCobworks(Por Giuliana Capello*, do blog
Gaiatos e Gaianos – Planeta Sustentável/Abril, 09/09/2008)
* Giuliana Capello é jornalista e permacultora pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica. Escreve sobre construção sustentável para as revistas Arquitetura & Construção e CASA CLAUDIA. Formada em design de comunidades sustentáveis (Global Ecovillage Educators for a Sustainable Earth), faz parte da Ecovila Clareando, onde está construindo sua futura morada.