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tempestades no Brasil chuva de granizo
2008-09-12

Viúva há seis meses, Jussara Schuler de Souza Appel, 46 anos, retornava da Capital com novidades para as duas filhas de 17 anos e 24 anos, na tarde de quarta-feira – dia de um fenômeno assustador e devastador que, em questão de minutos, gerou granizo e chuvaradas em distintas regiões do Rio Grande do Sul. Quem viu as encorpadas nuvens escuras se aproximando velozmente e, aos poucos, encobrindo parte do Vale do Taquari e da Região Carbonífera, logo acompanhada por um vento de extrema violência, jamais poderá esquecer a data de 10 de setembro. Foram momentos reais de puro medo e pavor.

– Tinha acabado de ser contratada para cuidar de uma senhora – recorda a costureira desempregada.

A felicidade de Jussara se encerrou na estrada, antes mesmo de chegar em casa. A bordo de um ônibus da empresa Fátima, ela e outras duas dezenas de passageiros enfrentaram na BR-386 ventos superiores a 100 km/h, em um tornado que assombrou Triunfo e Tabaí.

Enquanto nuvens cuspiam pedras do tamanho de bolas de ping-pong e o vento balançava o ônibus, crianças choravam e adultos gritavam. Jussara, acompanhada de companheiros de infortúnio, rezava. O relógio marcava 16h15min. Era apenas o começo de um dos dias mais assustadores na vida de Jussara e de milhares de moradores da localidade de Coxilha Velha, entre Triunfo e Tabaí.

– Tivemos a impressão de que um balde de gelo tinha sido jogado em cima do ônibus. Quando achávamos que o pior havia passado, veio o vento – recorda Jussara.

Naquele momento, distante cinco quilômetros dali, sozinho na cabine de um caminhão Volkswagen Worker 17-180, modelo baú, Odirlei Boff, 27 anos, enfrentava sozinho a fúria da natureza.

– Faltava uns 200 metros para chegar a um posto de combustível e me proteger. Achei que ia conseguir – conta.

Não conseguiu. Rajadas balançavam o veículo. Corajoso, Boff insistiu com o pé no acelerador até que a visibilidade desapareceu em meio ao aguaceiro.

– Achei que ia sair da pista porque não via nada na minha frente. Liguei o pisca e parei – recorda.

Eucaliptos foram arrancados pela raiz
De fato, Boff saiu da pista. Rajadas foram suficientes para tombar as 17 toneladas do Worker 17-180.

– Permaneci atado ao cinto, esperando que alguém me ajudasse – detalha o caminhoneiro, que ia de Guaíba para Sarandi, no norte do Estado.

Próximo dele, uma caminhonete Fiorino e uma carreta de 18 toneladas também eram arremessadas para fora da pista. Pareciam carrinhos de plástico. Ninguém ficou ferido com gravidade.

– Em 22 anos de Polícia Rodoviária Federal (PRF), nunca tinha visto nada parecido – diz o policial Paulo Machry, 45 anos, lotado no posto da PRF em Tabaí, tentando impedir que motoristas parassem para tirar fotos.

A área de abrangência da tempestade foi de seis quilômetros. De norte em direção ao sul, varreu o que encontrou pela frente.

No km 389, em Coxilha Velha, Enio Braga, 53 anos, assistiu pela fresta de um escritório, transformado em bunker em meio à tempestade, R$ 220 mil investidos na construção de uma área de mil metros quadrados virarem escombros. O galpão utilizado na reciclagem de produtos sólidos não resistiu.

Como num filme, um caminhão Agrale, estacionado no pátio do pavilhão e sem motorista, deslocou-se desgovernado por 30 metros. Eucaliptos, arrancados pela raiz, tombavam interrompendo a rodovia. Cinamomos com três décadas de vida e 25 metros de altura eram arrancados com a raiz da terra. Sem seguro, Braga não sabe como será a reconstrução.

– Fizemos o orçamento do seguro, estava tudo certo para fechar, mas acabamos não fazendo – lamenta.

Às 8h30min de ontem, no momento em que conversava como Zero Hora, Braga e os funcionários, ainda traumatizados, interromperam a entrevista. Ao fundo, uma nuvem espessa e negra – semelhante à de quarta-feira – anunciava-se. Em minutos, a manhã virou noite.

– Vamos embora que o zinco vai começar a voar – alertou alguém.

Todos saíram rapidamente. Ao contrário de quarta-feira, foi apenas uma chuvarada, que castigou mais as centenas de famílias assoladas pela tempestade e ainda desconfiadas e assustadas.

O centro de reciclagem de Coxilha Velha não foi o único gigante que sucumbiu ao vento. No km 388,8, o telhado do tradicional Centro de Compras Coxilha Velha, estabelecido há 17 anos, ruiu. Em forma de cone, o vento soprou durante três minutos

– Parecia uma hora – recorda Ivan Bizzarro, 52 anos, proprietário estabelecimento.

O vento foi e voltou, tudo muito rápido

Parte do teto do prédio de 1,6 mil metros quadrados desabou. Cerca de 20 pessoas, entre funcionários e clientes, saíram ilesos.

O mesmo não ocorreu com os produtos à venda. Sem proteção, um número estimado em 50 mil peças (camisetas, malhas, bolsas, sapatos, abrigos) foram inutilizados. Um prejuízo estimado em R$ 2 milhões.

– Destelhamentos são normais, mas como isso nunca vi nada igual. Parecia a turbina de um avião. Mas bem no teu ouvido – recorda Bizzarro, que dispõe de seguro para amenizar os perdas milionárias.

No Posto Tabaí, da Rede Energia, km 385 da BR, a tormenta mostrou-se traiçoeira: num vaivém destruidor, característico de tornados, desmanchou as duas extremidades da cobertura de cerca de 100 metros quadrados.

– Parece que ele (o vento) foi e voltou. Tudo muito rápido. Impressionante. Vamos recomeçar do zero – conta o gerente Jovane Lampert, 35 anos.

De todos os efeitos, o mais assustador ocorreu no interior da Carroceirias Coxilha, uma empresa familiar especializada em construir e reformar carrocerias de caminhão. Todas as seis peças, que pesam entre mil e 1,5 mil quilos, foram arrastadas.

– Uma das carrocerias foi arredada por 30 metros. A sorte que ninguém estava perto – conta o proprietário Paulo Volnei Nott Oliveira, 45 anos, há duas décadas tocando o negócio.

Dentro da empresa, o cenário era de guerra: peças retorcidas, ferramentas quebradas, telhado destruído e paredes trincadas. Ninguém tinha visto nada igual, parecido, fora os filmes-catástrofe de Hollywood.

(Por Carlos Etchichury, Zero Hora, 12/09/2008)


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