Dinossauros tiveram sorte
12/9/2008
Agência FAPESP – Os dinossauros dominaram a superfície do planeta por mais de 160 milhões de anos, levando muitos cientistas a atribuir seu sucesso a uma eventual superioridade sobre outras espécies. Mas um novo estudo aponta que pode ter ocorrido algo muito mais simples: sorte.
Stephen Brusatte, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e colegas estudaram registros fósseis para determinar a relação entre a evolução dos dinossauros e a de seus principais competidores, os arcossauros, durante o Triássico Superior (entre 251 milhões de anos e 199 milhões de anos atrás).
Os arcossauros eram ancestrais dos atuais crododilos, mas muito mais diversos. Entre eles havia predadores quadrúpedes enormes, bípedes esguios, comedores de peixe, comedores de raízes e herbívoros. A maioria parecia muito mais com os dinossauros do que com os crocodilos.
Em artigo publicado na edição desta sexta-feira (12/09) da revista Science, os pesquisadores destacam que, diferentemente do que se acreditava, os dinossauros não substituíram os arcossauros como a espécie dominante no planeta por meio da competição por nichos ou recursos.
Em vez disso, dinossauros e arcossauros evoluíram lado a lado, ocupando os mesmos nichos nos primeiros 30 milhões de anos de existência dos primeiros. Os arcossauros eram mais abundantes, com maior número de espécies e de indivíduos.
“Se estivessem no Triássico Superior, há uns 210 milhões de anos, e tivesse que apostar em qual dos dois dominaria eventualmente os ecossistemas, certamente não apostaria nos dinossauros”, disse Brusatte.
Mas os arcossauros simplesmente desapareceram, em vez de serem eliminados como resultado da competição. Ou seja, os dinossauros não estavam determinados ao sucesso mas simplesmente ocuparam o espaço deixado pelo outro grupo.
“Os dinossauros tiveram sorte não apenas uma vez, mas duas, tendo sobrevivido a dois eventos de extinção em massa. Primeiro resistiram ao evento no Carniano-Noriano, há 228 milhões de anos, o qual também foi superado pelos arcossauros. Depois, sobreviveram a uma destruição muito maior, há 200 milhões de anos. Foi o evento de extinção no Triássico, causado por uma súbita mudança climática, talvez facilitado pelo impacto de um asteróide, que levou ao fim dos arcossauros”, disse.
Os motivos que levaram ao fim dos arcossauros e ao domínio terrestre dos antigos competidores não são conhecidos, mas não custa lembrar que os dinossauros representam tanto uma história de sucesso como de fracasso. Depois de dominar os ecossistemas terrestres por tanto tempo, os répteis que atingiram tamanhos gigantescos desapareceram de cena subitamente, há cerca de 65 milhões de anos. Dessa vez, não tiveram a mesma sorte das outras duas.
O artigo "Superiority, competition, and opportunism in the evolutionary radiation of dinosaurs", de Stephen Brusatte e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
(Agência Fapesp,12/09/2008)